o culto e o oculto




Querida Mana,
enredados que estamos no nosso próprio culto, no culto das nossas pequenas e efémeras existências, desmultiplicamo-nos em estatísticas e planos de emergência e casos reais e notícias mais ou menos desinteressantes sobre a percentagem de aviões que pode ou não descolar e aterrar e jogamos para o oculto esquecimento dos dias aquilo que é a maior evidência de todas: a nossa patética fragilidade. Um vulcão adormecido tossiu e toda a maravilhosa tecnologia humana ruiu. A Natureza enfadou-se de estar dormitando e bocejou e toda a sapiência acumulada em milhares de anos de estudo e investimento serviu de nada. E toda a robusta estrutura social colapsou. Fica-me, mana, desta breve mas poderosa manifestação de força por parte da Mãe Natureza, a sensação de que devíamos olhar em volta com mais atenção. Admirar o oculto e desenvolver menos o umbilical e patético culto de nós. Nem radares, nem GPS, nem jacto, nem piloto automático, nem era digital, nem afirmação computacional, nem nano nadas, nem mega tudos, nem gigas, nem teras, nem bites, nem ecrãs tácteis, nem sem fios, nem coisa nenhuma pôde nenhuma coisa contra um sussurro do vulcão voltando-se no tempo como eu na cama. Fica-me o respeito. Fica-me o olhar preso nas cinzas magnânimas para me lembrar da próxima vez que um humano se mostrar grande ou grandioso. Fica-me a humildade de reconhecer-me o meu lugar de bicho da terra tão pequeno.
Mano

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