A Crise A

Era uma vez uma Gripe que não tinha nome. Mas tinha dono. E o dono, porque era pessoa de pouca imaginação, chamou-lhe A. Ora, ninguém queria esta gripe como, de resto, ninguém quer gripe nenhuma. E o dono dela, como a queria vender, pensou: "Como é que eu vou fazer publicidade eficaz a uma coisa que ninguém quer comprar?". E foi então que teve essa brilhante ideia: "Assusto toda a gente!" Vai daí começou a fazer um gigantesco BUUUUUUHHHH universal ao mesmo tempo que fazia uma carantonha feia a ver se assustava. E assustou. E as pessoas, assustadas, correram atrás do gel, do álcool, das máscaras, dos comprimidos, das vacinas. Tudo se encomendou aos milhões. Não por causa da gripe, só por causa do medo. E fizeram-se planos de contingência e saíram muitas notícias nos jornais, nas rádios e nas televisões e houve contagem de mortos que morriam de tudo e mais alguma coisa menos de Gripe A, comprovadamente é certo. E depois, de entre os biliões de pessoas que somos, lá houve um ou outro que morreu de gripe. Como morrem todos os anos. E lá voltaram as notícias. E compraram-se milhares de milhões de unidades de desinfectante para as mãos que é álcool com cheirinho, e de máscaras e sabonetes iguais aos outros mas diferentes porque eram para a gripe e toalhetes e passou-se a espirrar para o cotovelo patético e as pessoas assustadas encheram os bolsos do senhor sem imaginação para nomes mas com muita imaginação para vender coisas que ninguém quer, o dono da Gripe A. Hoje, depois do Natal, das eleições, do futebol, e, sobretudo, depois de estarem exauridos os bolsos que já tinham pouco e depois de estar já satisfeito o dono da gripe, já ninguém se lembra de nada. E há dispensadores abandonados. Uns vazios, outros meio cheios, outros cheios e outros ainda arrumados nas caixas onde vinham embalados. E há sabonetes que nunca viram o sol e máscaras que nunca foram ser estúpidas para a cara de ninguém. E tudo isso jaz abandonado mas pago. E a memória é curta. E não tarda nada estamos a pagar outra coisa qualquer.

Não, meus amigos, não me enganei no título do post.
João Paulo Videira

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