De Negro Vestida - XXIV


Solidão – V
Maria de Lurdes está na marquise convertida em atelier de costura tentando fazer, refazer e reunir os gestos necessários para engrossar um pouco mais a coluna das receitas no seu orçamento familiar. Está sentada numa cadeirinha branca, tem a máquina de costura preparada, caixas abertas com linhas e acessórios à volta, as costas curvadas para a frente, uma linha presa entre os dentes e pressente. Pressente os filhos que chegam num rumor escadas acima. Sabia que chegariam tarde. Alguma utilidade têm os telemóveis e as SMS. Mas não sabia que, por via da mesma utilidade, chegariam mais ou menos à mesma hora. Estava já preocupada. Sem razão, é certo. Mas, sendo-se mãe, mais razões não são precisas para que uma ansiedade funda marque o ritmo do coração.
Sente-os aproximarem-se. 

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O Romance "De Negro Vestida" foi publicado, capítulo a capítulo, neste blogue, entre 26 de janeiro de 2010 e 22 de abril de 2011.

Agora que conhecerá outros voos, nomeadamente, a publicação em livro, deixamos aqui um excerto de cada capítulo e convidamos todos os amigos e leitores a adquirirem o livro.

Obrigado pela vossa dedicação.

Setembro de 2013


João Paulo Videira

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