Não sou como tu, pai.


Tenho saudades tuas.

Mas não são saudades daquelas que um dia vamos saciar. São inexoráveis e definitivas saudades, pai. Por vezes converso contigo nesta conversa que é eu adivinhar, pressentir por aprendizagem o que me dirias. Mas não é o mesmo que falar-te e ouvir-te.

Sabes, não tem sido fácil a vida sem ti. Sem a tua palavra sábia, sem o teu conselho pleno de bom senso. Não tinhas as respostas todas mas percebias os melhores caminhos. Ultimamente tenho assumido decisões que precisavam de ti nelas. Viver contigo era como estar sempre amparado. Protegido. Não sou como tu. Ninguém é como tu. Tento honrar-te as passadas mas deixaste os pârametros demasiado elevados e sinto-me sempre aquém. A verdade, pai, é que estou cansado de viver sem ti. Estou exausto de sentir a tua falta. E sinto esta pesada e inultrapassável impotência. Não há foto, não há filme, não há memória que te substitua. Eu sei que sofrias para que o mundo fosse melhor para nós, mas, ao teu lado, tudo parecia sempre mais fácil.

Abraça-me, pai. Vem visitar-me. Não sei se queres vir em gota de chuva, em raio de sol, em som de trovão, em brisa marinha ou, com a tua simplicidade, apareceres, bateres à porta e perguntares como quem provoca, "O que é hoje o rancho?".

Sabes, eu sou feliz e estou bem. Não precisas preocupar-te. Este choro que agora ouves, estas lágrimas que agora vês, não são tristeza. São só a tua falta. E isso é tudo.

Gosto muito de ti, paizinho. Tentarei honrar-te em tudo o que puder. Mas não sou como tu.

O teu rapaz, João Paulo.

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