O Clã do Comboio - A Mulher Vampiro Ataca de Novo

A Mulher Vampiro Ataca de Novo.
A mulher vampiro hoje sorriu-me! Tem um sorriso bonito.

Mas, antes de sabermos como e porquê, vamos lá a perceber porque é que este texto tem no título a expressão "Ataca de Novo". Ela não ataca nada. Só quer que a deixem dormir a viagem. Mas como quem faz os títulos das crónicas sou eu e como ia escrever de novo sobre ela, escolhi este porque me apeteceu.
A verdade é que tenho mais pormenores dela. Faltou à minha descrição anterior dizer que também as suas mãos são alvíssimas e que tem as unhas impecavelmente pintadas de negro. Faltou dizer que ouve música toda a viagem com uns phones brancos que contrastam com o negro da indumentária. E faltou dizer que dorme toda a viagem, que viaja sempre no mesmo banco. Não me perguntem como é que consegue apanhá-lo vago, mas o certo é que consegue. Acorda sempre no mesmo local, levanta-se, compõe-se e vai à sua vida.

Esta semana, contudo, foi semana de mudanças profundas. Abandonou o negro. Veste toda de cinzento. Quer dizer, quase toda. Calças de fazenda cinzentas e um enorme casaco de fazenda num xadrez miudinho castanho-escuro e branco. Um lenço farto a sair-lhe do casaco num tom castanho-clarinho seco muito suave e o calçado, botas, no mesmo tom. Esta roupa não é tão monocromática como a anterior mas cria a sensação de estar toda de cinza. E depois, claro, emerge aquela labareda laranja que é o seu cabelo. Continua a qualificar para vampiro do século XXI.

Hoje, três tipos simpáticos que costumam ir a meio da carruagem a discutir como é que lavam os carros ao fim-de-semana e despejam o lixo à noite, foram lá para trás. Ficaram ao pé dela. E conversavam abundantemente com o seu usual entusiasmo de tipos que passeiam o cão. E é precisamente essa conversa que não a deixa dormir. Ela forçou. Fechou os olhos e tentou, mas eles agora iam a falar de marcas de pneus e não dava mesmo para ela dormir. Eu estava a olhar para ela, tirava-lhe a pinta à nova roupa para escrever este texto, quando ela abriu os olhos com cara de poucos amigos, olhou para eles, encolheu os ombros como quem diz, Nada a fazer, e depois olhou na minha direcção e sorriu. Um sorriso "Já me topaste". Eu sorri de volta encolhendo os ombros a dizer-lhe sem palavras, Hoje não se dorme. Ela confirmou com o olhar, sacou de uma revista e foi ler. Eu vim escrever. E os três amigos continuaram a salvar o mundo. Alto e bom som.

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