O Clã do Comboio - Palavras Cruzadas

Palavras Cruzadas
Regional das 18:48.
Entrou. Era alto e magro. Camisa branca com uma risquinha bordeaux. Gravata na mesma cor avinhada. Um fato de fazenda grossa. Sapatos pretos sem atacadores. Trazia uma mala preta na mão. O conteúdo devia ser parco porque a pasta estava vazia, ou quase, pois não fazia volume.
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Sentou-se. tirou um jornal da pasta. Colocou-a deitada sobre os joelhos e o jornal em cima dela aberto na página dos passatempos. Tirou uma caneta do bolso interior do casaco e começou a fazer as palavras cruzadas.
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O motivo deste texto foi o que se passou a seguir.
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Adormeceu. E ficou na posição de escrita. A cabeça ligeiramente tombada para a frente, a caneta na mão nunca se inclinou, ficou sempre direita em cima da quadrícula das palavras cruzadas. A outra mão segurava o jornal e levantava-lhe uma ponta para poder ver melhor. Assim ficou segurando o jornal.
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E ele ali e assim foi desde Santa Apolónia até à Póvoa a dormir e a fazer palavras cruzadas ou, pelo menos, na perfeita posição de quem as faz. Quem passasse e não atentasse nos olhos cerrados diria que estava escrevendo.
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Quando acordou foi como se as tivesse terminado. Arrumou a caneta no casaco, o jornal na pasta, endireitou-se no banco e saiu duas paragens mais à frente.

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