O Clã do Comboio - A Fisionomia da Alma

A Fisionomia da Alma.
Não, caros leitores, apesar do que o título possa sugerir, este não é um post esotérico!
Nem sequer é uma história. Apenas uma deambulação pelos recantos da alma humana. E, esclareça-se, pela sua fisionomia. Sempre me interroguei sobre qual seria o aspecto de uma alma ou se teria aspecto. Esta sexta-feira descobri que, se a alma não tiver uma fisionomia própria, o nosso corpo pode bem ser a fisionomia da alma.

Saí tarde do trabalho. Só consegui apanhar o regional das 20:48 em Santa Apolónia. Quando entrei, ela já lá estava sentada. E ele também. Ele não me interessou. Nada havia naquele rapaz barbado e inconsequente que me despertasse a curiosidade. Nela sim. Houve algo que me suscitou uma reflexão. Melhor, não foi tanto uma reflexão. Foi um desafio. Olhei-a. Observei-a como observo tudo na vida. Com cuidado. Com pormenor. É a minha forma de respeitar e venerar todas as coisas deste mundo. É gravá-las na mente e, algumas, cristalizo-as nas palavras. Assim que entrei apostei comigo mesmo que sabia como era o carácter dela, como eram os seus principais traços comportamentais. Como dizemos vulgarmente, apostei em como sabia como era o feitio dela.

E porquê? Porque, à medida que vou observando o mundo e as pessoas nele, há coisas que se repetem e, acreditem ou não, há determinados corpos que sugerem o comportamento de quem se transporta neles. São assim uma espécie de fisionomia da alma.

Era magra. Vestia bem. Tinha o cabelo claro, com madeixas, e esticado, liso, pelos ombros. Os olhos eram finos, ou seja, o globo ocular não era arredondado nem largo, mas rasgado e estreito. O nariz era afilado e a linha nasal, junto à extremidade, esticava-se pontiaguda apontando em frente. Tal como os olhos, o nariz era fino e, além disso, empertigado. O queixo terminava em bico apontando para a frente e, tal como o nariz, era fino. Fazia uma covinha na ponta, mas não arredondada, assim mais como um pequeno corte.

Apostei que seria uma pessoa presunçosa, mesquinha, arrogante e antipática. Sentei-me e esperei que algo acontecesse. E aconteceu. Aconteceu que falou durante toda a viagem e durante toda a viagem destilou todas aquelas características num discurso prepotente e envolvido em juízos de valor pejorativos. Não sei como é que ele aguentou uma hora e meia daquilo.

Tive pena de ter razão, de ter antecipado o seu comportamento. Haverá pessoas com aqueles traços e outro comportamento? Claro que sim. Contudo, não é a primeira vez, nem a segunda, nem... enfim, digamos que frequentemente aqueles traços correspondem àquele comportamento. Há almas que se sentem mais confortáveis em certas fisionomias.

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