O Clã do Comboio - Multiculturalidade


Multiculturalidade
Não se trata de uma história. É o mero anotar de um apontamento multicultural.
Hoje, quando entrei no interregional das 7:18, a configuração daquela zona da carruagem ficou, subitamente, multicultural. À minha frente, à esquerda, um jovem casal de ciganos com sacos e malas diversas e uma conversa constante num tom audível e cantado como se cada frase fizesse parte de uma melodia andaluz. Também à minha frente, mas à direita, uma moça acerca de quem escreverei um dia destes, e cuja marca mais distinta é a suavidade e a doçura do sotaque brasileiro. Fala como se acariciasse as palavras e tivesse muito ciudado para não as partir. Não é música o que diz, é poesia. E, ao meu lado, um jovem africano, enfiado num fato-de-treino de feira, bem giro, por sinal, puxou do telemóvel e iniciou uma conversa imperceptível numa língua que não identifiquei, mas que tinha a envolvência e o calor do continente africano. Era melódica, mas de uma melodia recorrente nos sons e envolvente na tonalidade. Estava tudo a correr bem, quando entraram dois dos três amigos que querem salvar o mundo e não se calaram até Lisboa e não deixaram mais ninguém dormir e depois ainda tiveram a lata de dizer que o culpado era o escritor. E como falaram eles? Alto, mesmo a fingir que era baixo. Vozes ásperas e mudanças bruscas de tom. Qualquer coisa a parecer um faduncho de taberna em noite bem bebida! E o que é que se safou? Duas coisas. Primeiro, o humor. Um humor cáustico e peremptório a provocar gargalhadas abertas e fáceis. Segundo, a descrição da loira. Até eu, que não a vi, é como se a tivesse visto. Ia jurar que a vi. E gostei.
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É assim o interregional das 7:18: tem seus momentos multiculturais!

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