
Sexta-feira, 3 de Junho. Greve da CP.
Nos dias que precederam a greve, os passageiros foram sendo informados, com dados imprecisos e pelos mais diversos meios, de que o último comboio de regresso, a partir de Santa Apolónia, sai às 12:48h. Depois deste, só no dia seguinte.
O que acontece é que nesse comboio viajarão todas as pessoas que vão de fim-de-semana e todas as pessoas que foram para Lisboa nos diversos comboios da manhã e costumam regressar nos diversos comboios de fim de tarde e princípio de noite. A razão é simples. Muita gente, a maioria, decidiu trabalhar meio dia e regressar no último comboio do dia, o das 12:48h.
Chego à estação de Santa Apolónia às 12:40h. O comboio, que é regional e como tal vai meter gente em todas as paragens e apeadeiros, já está quase cheio. Consigo um lugar. Depois de duas paragens, Braço de Prata e Lisboa Oriente, o comboio está sobre-lotado. Todos os bancos estão ocupados, muitas pessoas vão em pé acotovelando-se junto às portas e ao longo dos corredores. Por uma inexplicável razão, a CP não aumentou o número de carruagens! As mesmas três de um dia normal e um dia normal tem cerca de 10 comboios de regresso com 3 a 6 carruagens cada, circulam atafulhadas de gente. Bastava adicionar uma tripla. Não foi feito. Por outra inexplicável razão, o ar condicionado não foi ligado. Com o calor de um dia primaveril de sol intenso e a respiração de tanta gente numa carruagem hermeticamente fechada, o ar torna-se irrespirável e escasso.
Um pouco antes de Santarém, o tom das queixas cresce, as pessoas abanam revistas e jornais, desapertam-se alguns botões de camisa e acontece um desnecessário desfalecer. Ali mesmo ao pé de mim, um homem cai com estrondo no chão! Está inanimado. As pessoas precipitam-se, depois recuam para não o sufocar ainda mais, alguém oferece uma garrafa de água, Não lhe dêem de beber, avisa alguém. É só para o molhar, respondem. Há quem lhe levante um pouco a cabeça, outro levanta-lhe as pernas. Minutos depois vem a si. Oferecem-lhe um lugar sentado. O homem está lívido e suado. Queixa-se de um braço. Aleijou-se na queda.
Não posso deixar de pensar que tudo isto era desnecessário. Isto não tem nada a ver com lutas e greves e direitos e contra-direitos. Isto tem a ver com uma lamentável falta de cuidado, uma indesculpável falta de atenção para com pessoas que, no início de cada mês, confiam na empresa e compram, adiantadamente, bilhete para todo o mês!
Não foi só o passageiro que desfaleceu. A CP, se continua por este caminho, envereda, também, por um desnecessário desfalecer!