Histórias do Autocarro 28 - É a Vida!

É a Vida!

Eram cerca de 18h da tarde. O 28 ia muito composto mas não estava completamente cheio. Ao aproximar-se de uma paragem, uns dois ou três metros para lá dela, estava um homem nos seus sessenta anos. Fez sinal para o autocarro parar. O motorista parou, mas advertiu:
- Oiça lá, a paragem não é aí. Era ali atrás...

O homem lá entrou com algum custo e o 28 seguiu caminho. Um pouco mais à frente, nem era uma paragem nem nada, era só um semáforo, a luz estava amarela, prestes a passar a encarnado, ainda assim, se o motorista passasse no amarelo, não seria o primeiro em Lisboa a fazê-lo. Acontece que, nesse preciso momento, uma mulher jovem de aspecto muito saudável e atraente, com um vestido de alças, em motivos florais e tons de rosa escuro, decote bem pronunciado, esticou o bracinho, fez um sorriso e foi assim que pediu ao motorista do 28 que parasse. E ele, todo simpático, parou a viatura e deixou a beldade entrar em pleno... semáforo! Nem paragem por perto.

Lá dentro ia um velhote ao meu lado, agarrado ao varão, com um bigode branco e farfalhudo e as rugas a sulcarem-lhe a pele. E falou num tom conformado e encolhendo os ombros naquele gesto de não há nada a fazer:
- O que é que você quer? É a vida!

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