A Síndrome da Cueca Entalada

Há problemas que afectam a nossa sociedade e dos quais quase ninguém fala. Nem um protestozinho, nem uma reivindicação, nem nada. Dos muitos que me preocupam, o que mais recentemente me tem atormentado é a Síndrome da Cueca Entalada, vulgarmente conhecida por entre as gentes como SICUE ou ainda por "Será que Alguém Está a Ver?". E a verdade é que na maioria dos casos está mesmo alguém a ver.

Importa referir, em primeiro lugar, que não se admite em pleno século XXI, em plena era das tecnologias, tendo o homem ido à lua, criado os computadores, os telemóveis, os comandos a distância e a alheira de Mirandela, que não se tenha ainda encontrado solução técnica para superar esta praga.

É evidente que a qualidade da cueca pode ajudar, mas não resolve, não constitui garante suficiente.

Ora, se a consequência mais incomodativa pode ser esse desagradável efeito secundário designado de "Rabo Assado", não há dúvida que a mais prejudicial para os próprios e terceiros é esse nefasto efeito estético que é ir uma pessoa na rua e, de repente, porque sucumbe ao incómodo, levar a mão ao rabo para desentalar a cueca. Isto pode estragar uma reunião, um dia de trabalho, arruinar uma reputação.

E porquê este discorrer filosófico sobre tão interessante fenómeno? Simples. Porque um amigo meu presenciou decadente e defraudante cena em plena via pública. Era uma senhora que, já não estando na flor da juventude, de velha não podia chamar-se ainda. Ia elegantemente vestida, com sedas vaporosas e tons leves. Eximiamente penteada e abundantemente assessorizada por brincos, fios e pulseiras de excelso quilate. Deslizava sua elegância na via pública e distribuía a quem passava um apurado sentido estético e um facilmente identificável bom-gosto. Sem discussões. Era um prazer e um deleite vê-la deslizar. E é neste climático momento que, mesmo à frente do meu amigo, a elegância em pessoa, alçou o braço direito, dobrou-o para trás, enfiou a unha perfeitamente pintada sob o elástico da cueca e a desentalou de onde entalada estava. E o mundo desfez-se na mesquinhez do gesto, e a elegância perdeu-se na pobreza da atitude, o sentido estético esvaiu-se no gesto grosseiro. E porquê? Porque, tecnicamente, ainda se não conseguiu debelar a síndrome. Imperdoável! Anda a Humanidade a acumular cortex cerebral há 40 milhões de anos e depois joga fora a elegância conquistada com um gesto vítima da sua própria incapacidade. Nem ao menos, a diva, naquele momento, se lembrou de oferecer as costas à parede e disfarçar a atitude num gesto rápido. Não. Demorou-se.

Andam os homens tão atarefados com questões relacionadas com as finanças e o endividamento e não resolvem estas prementes questões que são, claramente, de saúde pública. E atenção: afectam-nos a todos. Sim, mais tarde ou mais cedo, cada um de nós será vítima do incómodo e da tentação. Aqui fica, pois, o repto à comunidade científica, aos políticos e aos responsáveis pelos destinos das nações: combatamos a SICUE, já!

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