Afinal, Havia um Coelho Escondido na Cartola Grega

Ora bem, por esta eu não esperava. Nem eu, nem a maioria das pessoas, sobretudo, e isso é que me espanta, as que era suposto perceber destas coisas e não se deixarem surpreender.

Afinal, a frágil Grécia, sempre à mercê da crise, dos analistas, com o papão de ter de entregar-se nas mãos de terceiros, tinha uma cartola onde ainda havia um coelho. O referendo.

Eu não percebo nada de finança, nem destas movimentações. A única coisa que sei é que há políticos responsáveis por esta situação, há uma banca a lucrar cada vez mais, mas a ser ajudada pelos estados. Há muitos focos de despesa, focos de dimensões inimagináveis e, contudo, continua a cortar-se no poder de compra da classe média. Esse pouco, eu sei.

Ora, tudo isto levou a que fosse preciso reavaliar a situação da Grécia e a semana passada essa reavaliação foi feita. Metade da dívida grega seria perdoada, a restante requalificada, tudo isto desde que as duras medidas de austeridade fossem implementadas. Até aqui nada de novo. É mais ou menos o rosário que Portugal está a percorrer mas num estado muito avançado. E esperemos nunca chegar tão longe. Ora, estava a Grécia de rastos, muito vulnerável, caladinha à espera de ser ajudada e salva do caos, quando o seu primeiro ministro anunciou que sim senhor, aceitariam novos pacotes e recentes perdões mas... desde que o povo grego os referendasse. E aqui a coisa complicou-se porque de imediato se descobriu que o referendo na Grécia é vinculativo. Ou seja, se o povo grego disser que não quer mais ajudas nem pacotes nem ser salva da eterna perdição pela bondade da banca europeia, então não há volta a dar.

E aqui, a surpresa! Os grandes líderes internacionais, na sua ânsia de ajudar o povo grego, vieram todos a terreno, pareciam combinados, mas, e aqui a minha surpresa, não para dizer, Deixem-se lá de referendos, a malta ajuda-vos na mesma, afinal de contas até há dívidas por pagar aos gregos desde a segunda guerra mundial... Nada disso. Vieram dizer que os gregos tinham de cumprir! Cumprir? Então, mas o que vai ser referendado? Não é um pacote de ajuda bem intencionada?

Enfim, cá para mim, o primeiro ministro grego até pode ter feito o que fez por falta de coragem política, até pode não ter sentido de responsabilidade, mas com um diabo, não é normal em democracia consultar-se o povo? E os gregos têm de querer ser ajudados? A que preço? Sabem, eu bem sei que é muito feio não estar de acordo com quem acha que vamos todos morrer pobre e miseravelmente, mas não me sai da cabeça aquela crónica que veio no Expresso sobre os belgas. Aqueles que estavam muito mal, tão mal como os outros todos, ou pior, mas que, por falta de um Governo democraticamente eleito não puderam aceitar as ajudas e respetivas medidas de austeridade. Sim, esses mesmos belgas que, afinal, não estão tão mal quanto isso!

Enfim, fico curioso. E, sinceramente, sempre quero ver se a ajuda internacional deixa o Governo grego consultar o povo grego... na Grécia!

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