"Com Amor," - Documento 58


Olá Laura,
Este mail não é uma resposta... Pretende somente ser um bálsamo para a alma e um tranquilizante para o coração. Não farei juízos de valor. Não sou ninguém para os fazer. Apenas tentarei dar-lhe a minha visão da situação. Se puder ajudar, tanto melhor. Não seria capaz de ficar indiferente. Afinal de contas, vivemos situações muito semelhantes na sua essência ainda que com contornos forçosamente diferentes.
Acho curiosa a forma como se refere ao seu marido, com respeito e até amor, mas sem chama nem emoção. É curioso porque sou capaz de imaginar a minha mulher a acusar-me das mesmas falhas, das mesmas rotinas.
Eu encontrei na Verónica a mulher que dava sentido a uma outra existência do Rui Daniel. Acontece que para a despertar para mim, tive de a despertar para os homens, primeiro. Depois fui vítima da minha cobardia e do meu comodismo e o destino fez o resto. Por cobardia e comodismo, pensando sempre nos outros e nunca em mim, não me divorciei, não fui à procura de viver o sonho e a Verónica acabou por encontrar uma pessoa que a preenche. Trágico, no mínimo. O que posso dizer-lhe é que não há culpados nem inocentes. Não acredito que o seu marido não lhe queira bem ou à sua família, não acredito que a Laura não lhes queira bem, ou a minha mulher a nós, ou eu... o que acontece é que as pessoas crescem e mudam e, por vezes, mudam e crescem em direcções opostas e passam a querer coisas diferentes da vida. Nesse momento, ou se tem um grande sentido de família, ou não se vai conseguir preservá-la. Em todo o caso, terão de fazer-se cedências, seja qual for a opção.
Não se sinta mal consigo própria. Não há razão para isso. É normal as pessoas mudarem. Pense em tudo o que já deu e em tudo o que já lhe deram e pense em si. No que realmente quer.
Enfim, esta conversa, que começou por acaso, está a ficar interessante. Tão interessante que merecia uma conversa frente a frente com uma bebida pelo meio. Que me diz?
Rui.

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