"Com Amor," - Documento 99

Minha Doce Laura,

Hoje resolvi escrever-te em papel perfumado e letras grafadas pela minha mão para celebrar a vida. Celebrar a tua vida, já que, quando receberes esta carta, deves estar a fazer anos. E celebrar a vida da nossa vida em conjunto nestes últimos anos.

Quando me aconteceste, a vida trouxe-me surpresas e milagres. Surpreendeu em mim formas de amar de que me não sabia capaz simplesmente porque estavam adormecidas. Surpreendeu em mim o prazer e a alegria de ser amada por ti e trouxe-me o milagre do nosso entendimento e da forma descomplexada como encaramos a vida. Temos enfrentado os preconceitos todos e todas as dificuldades com alguma facilidade porque há em nós, antes de mais, a alegria de pertencermos uma à outra, de nos entregarmos e de nos recebermos. E temos lidado com o estranhamento e a admiração dos outros como lidamos com a nossa própria admiração: com naturalidade e até algum descaramento.

Não sei quantas vezes fizemos amor até hoje, mas sei duas coisas. Foi mais de uma vez! Cada vez foi um milagre de carícias e sedução, um caminho de prazer e de ternura, um reacender do sentido da nossa existência. E sim, a pele das mulheres é mais suave!

Doce Laura, sempre que estou contigo fazes-me querer ser uma pessoa melhor, fazes-me querer realizar inolvidáveis feitos de ternura e solidariedade e fazes-me querer levar amor onde o não há.

Preenches-me os minutos, as horas e os dias, mesmo aqueles que não estou contigo e trazes luz ao caminho da minha existência, trazes bom senso às minhas decisões. E por isso te estou grata. E por isso te amo ainda mais.

É irónico, minha Laura, que Deus, o Destino, a Ordem Cósmica ou o que quer que seja que traça e orienta os nossos passos, tenha juntado uma mulher que não se guardou para homem algum com uma mulher que viveu casada mais de vinte anos. É irónico que tenhamos vivido experiências tão díspares para virmos a partilhar o Outono das nossas vidas em comunhão e harmonia. Não sei a quem agradecer por este encontro, sei só que estou infinitamente grata.

Amo-te muito, Doce Laura, amo-te tudo o que uma pessoa pode amar outra e é desta incomensurabilidade de amar que nasce em mim um desejo que verto em voto de vida para nós: desejo-te, minha amada Laura, que vivas muitos e felizes anos e que possam todos esses anos ser intensa e langorosamente partilhados comigo.

E tenho também, meu amor, um voto de morte. Pode parecer-te macabro, mas não é. É um feliz voto de morte: desejo que numa manhã de sol cristalino nos levantemos, já muito velhinhas, bebamos o nosso chá de tília na varanda, sentadas em torno da nossa mesinha redonda com um paninho bordado. Que o chá nos saiba bem e que nos encontrem mais tarde sentadas, lado a lado, de mão dada e adormecidas para sempre.

Quero viver contigo, Laura, e é contigo que quero atravessar a derradeira fronteira.

Não se pode amar mais, nem melhor, nem com mais entrega que isto tudo que trago no peito.

Com Amor,

Madalena

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