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jpv
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Ele trabalhava ali há algum tempo, já. Ela chegara de novo.
Ele tinha luz e promessas no olhar, na voz e na forma doce
como se movimentava.
Ela era silenciosa e observadora.
Quando começaram a cruzar-se, repararam um no outro, mas nada
mais do que um Bom Dia, Boa Tarde, foi alguma vez arriscado. Queriam
preservar-se.
Ela tinha um olhar fundo e um andar pequenino. As formas
comedidas do corpo eram, no entanto, definidas com clareza e graça feminina.
Os dias passaram e continuaram a trocar palavras de
circunstância, por vezes uns documentos, outras vezes algumas opiniões acerca
do trabalho.
Um dia, ao passar-lhe uma pasta, ele tocou ao de leve a mão
dela que, não se tendo oferecido, também não recuou.
O tempo passou e as pessoas que eram habituaram-se à presença
suave e discreta do outro. Notada, sem ser imposta. Sentida, sem ser
absolutamente necessária.
Um dia amanheceu de sol e frio. Os casacos e os cachecóis
tomaram conta dos corpos. O trabalho desenrolou-se com naturalidade. Ao fim da
tarde, quando todos abandonavam o local, ele veio despedir-se deles. Era um
ritual. Apertava-lhes a mão e desejava-lhes um bom resto de dia. Chegou a vez
dela e todo o seu relacionamento se alterou num par de segundos. Não se
aperceberam, então. Só mais tarde. Ele estendeu-lhe a mão, ela aceitou-a e
trocaram um olhar demorado. No dela havia um convite quase súplica, Toma-me! No
dele havia um vigor quase invasão, Quero-te!
Não sabem as pessoas como percebem o que percebem. Sabem só
que percebem. E estes dois perceberam. Poderiam ter continuado as suas vidas,
poderiam ter pensado que tudo aquilo fora uma ilusão, um mero olhar trocado com
um pouco mais de demora, mas qualquer um deles sabia que aquela troca de
olhares fora uma conversa.
Ela saiu. Ele seguiu-a. Ela entrou no seu carro e ele no
dele. Desconheciam-se. Não sabiam ao que iam, não sabiam, sequer, um do outro,
se seriam comprometidos ou não. Simplesmente fizeram o que fizeram. Ela
percorreu algumas ruas da cidade. Ele seguiu-a. Ela estacionou numa zona
habitacional tranquila. Ele estacionou ao lado dela. Ela dirigiu-se para um
prédio. Ele seguiu-a. Ela entrou e não fechou a porta. Ele entrou e fechou-a.
Ela dirigiu-se à aparelhagem para colocar a Dulce Pontes a entoar a Canção do
Mar. Ele aproximou-se dela por trás, tomou-lhe o sexo na mão, sentiu-o latejante
e húmido e beijou-a com demora.
Não devassemos mais a sua privacidade. O que se seguiu foi a
sinfonia das carícias, a troca das emoções, o bailado dos corpos na entrega e
na dádiva dos gestos incendiários. Quando terminaram, trocaram poucas palavras.
Ela começou:
- Fica dentro de mim!
- Ficarei.
- Como é que soubeste?
- Pelo olhar.