A DÚVIDA – CAPÍTULO IV




-         - Ó cabrão, ó meu grandessíssimo filho de um cabaz de cornos, tira daí essa lata velha...

Este gajo ia-me matando! A bófia não vê estes tipos nem os multa, mas se eu passo numa passadeira sem parar ou vou a 55 em vez de a 50 como logo com uma coima. A vida está-me toda a correr mal. Tenho quase a certeza de que a Isabel me anda a enganar com o meu cunhado. Se ao menos pudesse apanhá-los em flagrante... Eu bem lhe disse para cuidar da mulher dele e deixar a minha comigo, mas o tipo não sai lá de casa. Tenho quase a certeza que esta semana esteve lá em casa sozinho. Não sei se fale com a minha cunhada sobre essa possibilidade. Claro que quero apanhar o gajo, mas não queria lançar a dúvida sobre o casamento deles. A dúvida corrói. A dúvida mata.

Por falar em dúvida, esta minha secretária, a Manuela, está a fazer-me duvidar. Mas que mulherão! Aquele cabelo loiro e sedoso, aquelas formas, o tom de voz, o olhar, o sorriso, a simpatia e, sobretudo, a disponibilidade. Até onde irá aquela disponibilidade?! Eu podia sondar, dar um passo na direção dela mas se corre mal, fico com o ambiente do trabalho todo estragado... Enfim, tenho de pensar nisso... mas, por outro lado, não quero dar àquela maluca que tenho lá em casa razões para desconfiar... razões para ter razão, porque desconfiar, ela já desconfia, ou a tipa pensa que eu não sei que ela me foi ao telemóvel vasculhar tudo? Estava lá uma SMS que eu tinha a certeza que não tinha aberto e hoje de manhã encontrei-a como lida... A espertinha! Não havia lá nada que me comprometesse porque não tenho nada comprometedor, mas o certo é que, quando se desconfia, até as coisas mais simples e naturais podem ser vistas como comprometedoras. Sinto-me devassado. E aposto que me viu a pasta e a carteira. Felizmente tinha deixado os recibos do hotel no escritório. Bem, isso é que ia ser um caldinho se ela os chegasse a ver... mas porque é que eu me estou a enganar? Eu quero mesmo é pensar na Dulce, a minha cunhada. Temos falado imenso ao telefone, ela tem sido fantástica, somos o suporte um do outro, o desabafo, o ombro amigo um do outro... ela tem sido maravilhosa. Ajuda-me imenso a conhecer melhor a Isabel. Se a minha mulher foi ver as chamadas feitas, deve ter estranhado tantos telefonemas meus para a irmã dela, mas acho que não é pecado conversar com a cunhada... Embora seja pecado o que às vezes penso fazer com ela. Acho que esta proximidade está a gerar uma atração. Acho, não, tenho a certeza. Do meu lado. Dela não sei. Ela é certinha. Não vou arriscar a estragar todo o ambiente da família... Isso é que seria uma bronca das grandes, mas lá que ela me enche as medidas... Enfim, nunca dei à Isabel nenhum motivo para desconfiar de mim, mas lá que as tentações não me largam, lá isso não! Será pecado fantasiar?

Telefone a tocar? Quem será agora?

-    - Estou? Bem, obrigado, e tu? Sim... sim... claro que sim, sem problema. Não, não acho estranho. Adeus.

Porra, que estranho!! O meu cunhado quer encontrar-se comigo para falarmos a sós! Não podia ser mais estranho. Não disse sobre o que era, quer que estejamos só os dois. Cá para mim vem aí chatice. Se a coisa corre mal, ainda lhe dou dois bananos naquela tromba de nonhinhas!

-     - Saí daí cabrão, queres a estrada toda para ti?!

Estes gajos são uns assassinos na estrada!

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