É patético.
Ainda me lembro dos tempos em que
virmos juntos ao cinema era um evento. A escolha do filme, as pipocas, a
Coca-Cola, as mãos dadas durante a sessão, as conversas sobre o filme. Era
interessante. Agora, é só patético. Sinto-me mal. Sei que ela se sente mal.
Estamos ambos desconfortáveis. Ambos a tentar. Ambos por sacrifício e não pelo
prazer de estarmos juntos. É claro que um filme sobre casais que se separam
também não ajuda, mas escolhi-o de propósito a ver se ela percebia a mensagem.
A ver se percebia que, quando lhe falei em divórcio, não era uma ameaça ou uma
daquelas coisas que se diz para não fazer. Nem sequer estou a seguir a história
no grande ecrã. Ela também não. Acho que está a chorar e não é por causa do
filme. Tudo isto é desnecessário. Desnecessário e patético.
Temos falado imenso ultimamente,
mas a verdade é que se tem dito pouco ou, pelo menos, avançado pouco. São
conversas exaustivas e extenuantes onde comparamos comportamentos, fazemos um
balanço da relação, a contabilidade dos afetos e da dedicação e, no fim, cada
um volta ao seu ponto de partida e está pouco disponível para abandoná-lo. É
uma tentativa desesperada de procurarmos um compromisso, mas a dúvida
permanece. Acho que ela nunca mais confiará em mim, nunca mais superará a mágoa
que me tem. E acho que sinto por ela coisas semelhantes. É tudo tão difícil.
Sinto algum desprendimento da parte dela. Não digo que não me ame. Acho que
ama, caso contrário, que sentido faria esta ideia da viagem a Roma? Mas também
acho que a sinto preparada para tudo. É como se tivesse desistido depois da
luta por cansaço. Vejo-lhe isso nos olhos. Sinto-lhe isso nas palavras.
Tentarei retomar a nossa harmonia
nesta viagem, mas é como se tudo fosse feito em esforço, é como se partisse
para uma corrida sabendo que ia perder. Isto não vai resultar. Porque ela não
quer. O que ela quer é dar-me uma oportunidade para eu mudar. Porque eu não
quero. Não sinto alegria nem felicidade neste casamento. É como se continuar
casado representasse um prolongar da dor.
Eu gosto da Bela. Detesto vê-la
sofrer. Detesto vê-la fragilizada. Tenho pena dela, mas acho que a pena é a
última das razões por que se deve estar com uma pessoa. E é por isso que nada
disto faz sentido. Vou cancelar a viagem. Nós precisamos de resolver os nossos
problemas, não de adiá-los. Por mais que me doa, esta relação terminou. Nem
mesmo esta vinda ao cinema tem qualquer nexo:
- Olha Bela, eu acho que não
estamos aqui a fazer nada senão a enganarmo-nos. Eu vou-me embora. Queres vir?
Acho que era o melhor para ambos…