ErotiKa - Londres


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jpv
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Londres

O dia amanhecera fresco. Ela vestiu-se e agasalhou-se. Roupa interior confortável, uma T-shirt e uma camisola de lã de gola larga por cima. Um casaco comprido de fazenda beige. O cabelo solto. Sem jóias. Com o brilho no olhar. Sentia-se bem. Não estava em si, neste dia solarengo e frio, um espírito e uma sensação de sensualidade, a libido não tinha acordado ainda, mas sentia-se confortável. Pronta para a vida. Apanhou o Underground em King's Cross.



Ele sente-se o rei o Universo. A reunião do dia anterior foi fantástica. Agora é só orientar a equipa. Veste um fato azul-escuro com uma pequena e ténue linha fantasia. Coloca o relógio, perfuma-se, a barba está impecavelmente feita. A mala com o PC, os cadernos de apontamentos e as folhas com os gráficos impressos espera no chão. Camisa branca, gravata azul-celeste. Sai de casa. Não pensa em mulheres, hoje. A libido ainda não conseguiu acordar. Está afogada no sucesso do dia anterior. Entrou no Underground em Russel Square.


Quando ele entrou na mesma carruagem em que ela seguia, nunca se tinham visto e nada fazia prever o que iria passar-se a seguir. Ela estava de pé junto à porta. Ele sentou-se a meio da carruagem. A distância era considerável, mas conseguiam ver-se perfeitamente. Ela olhou-o e, com naturalidade e porque se sentia bem, sorriu. Ele não percebeu se o sorriso era consigo e por isso não sorriu de volta. Os dois desviaram o olhar e quando voltaram a olhar um para o outro foi exatamente ao mesmo tempo e então, por via dessa sintonia, os dois sorriram. E voltaram a desolhar-se e a reolhar-se e voltou a acontecer a coincidência como se ambos tivessem um relógio interior de olhar o outro. E desta vez sorriram primeiro e ficaram mais sérios depois, mas nunca se desolharam. Fixos nas emoções e nas possibilidades.

Quando o Underground parou, começou o mais estranho dos bailados, a mais fantástica das danças e aquilo que acontecera com o olhar veio a suceder-se com todo o movimento dos seus corpos, como se entre eles houvesse um estranho e poderoso magnetismo. Ela estava mais perto da porta de saída, acontece que algumas pessoas se precipitaram à sua frente e isso permitiu-lhe a ele percorrer a meia carruagem que os separava. Quando saíram, estavam lado a lado. Pressentiam e sentiam a presença um do outro, mas nunca se olharam. Mantiveram-se caminhando, olhando em frente. Quando, no atropelo da saída da carruagem, algumas pessoas os tocaram, passaram entre eles, adiantaram ou atrasaram o passo junto a eles, sem qualquer combinação, mantiveram-se lado a lado. Ao longo dos cinquenta metros da plataforma, diversas foram as pessoas que passaram entre eles, que se cruzaram com eles, mas o seu ritmo estava numa inexplicável e indestrutível sintonia. Mantiveram-se caminhando lado a lado, sentindo a presença mútua. Só isso. Sem se olharem. Contudo, à medida que os segundos passavam e aquela proximidade não combinada se mantinha e o ritmo da passada se acertava por instinto, foi crescendo certa cumplicidade. Sentida por cada um deles. Nunca partilhada. E chegaram às escadas a subir, e aos controladores de bilhete. Nesse momento pensaram que iriam separar-se. Por estranha coincidência, entraram em controladores paralelos, livres ao mesmo tempo, e quando surgiram do outro lado, como que por milagre, estavam lado a lado. Continuaram caminhando e agora interrogavam-se se os olhares trocados e os sorrisos atirados um ao outro na carruagem teriam sido os causadores daquela coincidência de proximidade, daquele ritmo síncrono de vencer o espaço. E continuaram.

Já perto da saída da estação de Picadilly Circus, com a luz do dia brilhando lá fora, e antes de mergulhar nela e na imensa multidão da urbe londrina, ela percebeu que seria impossível manter-se a coincidência, ele percebeu que seria impossível manter-se a coincidência. E continuaram, passada certa, caminhando lado a lado e, mesmo antes da luz do dia, do banho de cor e som que Picadilly Square lhes tinha reservado, ele encostou a sua mão esquerda à mão direita dela. Ela sentiu e não retirou a sua mão. Os quatro passos que ainda tinham para dar foram percorridos com o calor de uma mão na outra.

Ele sentiu o sexo entumescido e ruborizou. Ela sentiu-se invadida por um calor húmido e reconfortante onde começa a vida das pessoas todas.

Quando saíram para a luz do dia, ele tomou a direita, ela tomou a esquerda. Nunca mais se viram, nem nunca mais se esqueceram um do outro. 

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