A palavra Páscoa radica no verbo grego Pascw (Pascô).
Originariamente, este verbo significa sofrer e dá origem, em português, a
palavras como Páscoa, paciência e paciente. Ironicamente, para o mundo Cristão,
esta noção faz cada vez mais sentido. Todo o Universo sofre, é certo, acontece
que, de forma perturbante, o Universo Cristão agoniza em violência,
agressividade e discriminação.
O Cristianismo e, em particular, o Catolicismo, são movimentos de Bem. De difundir o Verbo Divino, mas também palavras de
conforto, abrigos, roupas, alimentos. A Missão da Igreja Católica é a mais
ampla missão humanitária do Universo. Nenhuma outra instituição leva tão longe
os seus esforços para dar abrigo a quem o não tem, vestir quem não tem roupas,
alimentar quem sofre de fome, proteger quem precisa de proteção, enfim,
defender os fracos e atenuar o seu sofrimento.
A questão está muito para além dos limites do
religioso. Podemos ser Cristãos, ou não. Podemos ser católicos, ou não. Conhecemos
as fraquezas da Igreja Católica, mas não podemos deixar de lhe reconhecer as
virtudes. Virtudes essas que, em tempos de muitos e graves conflitos sociais, são
bem-vindas ao Universo, em particular, às vidas dos necessitados e dos que
sofrem.
Estas palavras, neste fim-de-semana, fazem
tanto mais sentido quanto foram revelados os números da discriminação
religiosa. Os Cristãos e, de entre estes, os católicos, são, mundialmente, os
mais afetados pelo fenómeno da discriminação religiosa.
O movimento Cristão e a Igreja Católica
necessitam repensar e reequacionar internamente a sua ação. Há muitos aspetos
em que podem e devem melhorar. Mas têm, também, de repensar e reequacionar a
sua ação com o exterior. A forma como se relacionam com os parceiros sociais,
em geral, e os outros credos em particular. É irónico que, num esforço universal
de abertura, recetividade e compreensão, o Cristianismo e o Catolicismo estejam
a abrir portas à discrminação sobre si próprios. Embora seja sempre condenável,
é, no entanto, mais expectável, por razões históricas, que tal discriminação
aconteça sobretudo no Médio Oriente.
Sou e serei sempre um adepto da tolerância e
da liberdade. Mas é preciso que também a minha liberdade de ser Cristão e católico
seja respeitada. Só num mundo de compreensão e tolerância, onde todos os seres
humanos respeitam o pensamento de todos os seres humanos, o Homem poderá
realizar-se em justiça e felicidade. Esta mensagem tem de ser intrínseca ao
Cristianismo e ao Catolicismo, mas tem, também, de ser-lhes extrínseca e
exigida com a mesma convicção com que deve ser praticada.
Páscoa Feliz!
jpv