Por causa dA Dívida - VII


Ai, ai, ai, ai, meu Deus, meu Deus, meu Deus... eu não me chamo Maria Isabel Teixeira de Sousa Morais e Nóbrega se não há aqui qualquer coisa de errado, de muito errado! Tanta poupança, tanto cuidado com o dinheiro, o maridinho até se zangou comigo por causa de um simples par de sapatos e agora dá carta branca para gastar num quadro para o lobby... e os jantares em restaurantes dignos da nossa posição... e as idas ao casino... há mesmo alguma coisa de errado. Até telefonou à agência de viagens e aumentou para três semanas as nossas férias nas Maldivas. A que se deverá esta mudança? Enfim... e que tenho eu com isso? Que importam as razões? O que importa mesmo é que o maridinho voltou a ser o maridinho... até no quarto ele está melhor, mais relaxado, voltou a ser atencioso como só ele sabe. Enfim, mudanças para melhor não se questionam, aceitam-se. Olha, o telefone a tocar... é a minha mana, deixa cá ver o que ela quer...

- Tou, tou? Olá Dulce! Então, como vai a maninha da mana? Tudo bem? Ah... está feliz, a menina, e a que se deve tal felicidade? Ah sim? Vamos ser sócias? Mas que bom... não, não sabia... sabe como é o Mário, evita falar de trabalho ao pé de mim... e sabe porquê? Eu detesto! Mas isto é diferente, de que se trata? Como é que vamos ser sócias? Hum, hum... hum, hum... hum, hum... mas isso é genial. Havemos de jantar todos juntos para sabermos os pormenores todinhos. Beijinho, beijinho.

O Mário é genial. O meu maridinho é um génio da trapaça, da burla, da vigarice, mas quem manda os outros serem uns ignorantes... 'tá tudo explicado, claro. O maridinho anda a sacar financiamentos ao cunhado e companhia. É um encanto, faz tudo para me agradar. Agradar e satisfazer. Hoje, quando vier do lanchinho com a Marlene vou recompensá-lo... o meu génio da finança! É tão bom a gerir o dinheiro dos outros!

- Olá Marlene, rica, como vai? Ah… veja a coincidência… temos um anel igualzinho… os homens de negócios são tão previsíveis e descuidados! Aposto que os nossos maridos foram à mesma joalharia e nem sequer «checaram» as prendras que íam oferecer… mas são bonitos lá isso são!


Tenho de deitar esta porcaria fora! Mas onde é que o Mário anda com a cabeça para me oferecer um anel igual ao desta lambisgoia… ou será que… o tipo seria capaz de uma coisa destas… oferecer um anel igual ao meu à Marlene… mas agora não me vou chatear com ela, depois tenho de a aturar nas Maldivas… chego a casa, dou o anel à empregada e problema resolvido… só queria mesmo saber se tinha sido o Mário…

Ah não, isto é que não pode ser… ah isto não, o anel, eu tolero, agora isto… isto não pode ser… querem lá ver que o malvado me disse que ía uma semaninha para a neve com os amigos e foi com esta… esta… esta depravada… ai ele vai-mas ouvir todas… daqui a bocado já lhas canto…

- O menino cale-se! Não quero saber de desculpas esfarrapadas! Relógio para cá! Camisa para cá! Não quero saber se fica semi-nu ou não, o que o menino fez é uma deslealdade… e faz favor deixe cá ver a chave do carro porque o carro é meu… foi só um empréstimo… e agora acabou… não quero saber como é que vai. Vá nos transportes… ou peça boleia à Marlene. O Huguinho sempre lhe pode ligar a dizer, Marlenezinha, minha cabrinha, venha-me buscar que eu estou semi-nu e apeado no meio da rua. Seu traste! Como é que eu sei? Então acha que ela fez por esconder? Tomei chá com ela e ela tinha uma pulseira igualzinha… sim uma daquelas tirinhas de pano a dizer «Eu amo o Rio»… sim, que eu saiba no Rio não há neve nem se faz ski… além disso o menino está bronzeado… vai convencer-me agora que bronzeou na neve com os amigos? Olhe, acabou-se tudo entre nós… tudo… tudo!

Que traste! Vou ter saudades deste abdomen… eu perdoava-lhe tudo, mas não lhe perdo-o a Marlene.

Vou receber o meu maridinho com muito amor e carinho… afinal de contas, temos uma férias para planear.

- Mário, Mário, explique-me o que se passa aqui… quem são estas pessoas, estes senhores enfiados em fatos cinzentos… aí Jesus! Aquele tem uma pistola… aí Mário, isto mais parece que o CSI entrou em nossa casa.
- E entrou, Belinha, estes senhores são agentes da polícia judiciária…

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