Crónicas de Maledicência - O Preço da Miséria


Crónicas de Maledicência - O Preço da Miséria

Eu não acho que Portugal seja um país miserável. Longe, muito longe disso. Por vezes, contudo, é um país miserabilista. E há quem saiba, de quando em vez, aproveitar-se disso. Foi o que fez a cadeia de supermercados Pingo Doce no passado dia 1 de maio.

O país vive uma crise profunda que tem, naturalmente, consequências devastadoras nas vidas das pessoas, nos seus orçamentos, nos seus hábitos e na forma como adquirem os bens mais básicos e elementares para a sua subsistência. No dia primeiro de maio, com uma promoção de 50% de desconto para compras superiores a 100€, o Pingo Doce arrasou a concorrência, arrasou as próprias regras da concorrência, pode ter perdido dinheiro, ganhou clientes, teve os seus trabalhadores a laborar no dia do ano que lhes é dedicado, destruiu por completo o 1º de maio, não só porque desviou as pessoas da reflexão e da participação em eventos inerentes à data, mas também porque retirou às comemorações do dia toda a centralidade e impacto que deveriam ter tido no âmbito das notícias.

Tudo isto é muito sério e muito grave. Mas, o mais grave, é um delito moral que importa não deixar impune. O Pingo Doce explorou o clima de crise, as dificuldades e a miséria alheios para fazer negócio, para esvaziar prateleiras. Podem agora vir com as explicações que quiserem. Muitas delas plausíveis, como por exemplo, o espírito e a mentalidade que levou as pessoas a aderirem e a maltratarem-se por um saco de pão, um pacote de detergente, uma caixa de morangos. Na minha opinião, que não é mais do que isso, tratou-se de uma ação de marketing absolutamente execrável. Fosse isto um país sério e a sério e alguém responderia pelo crime no tribunal dos valores. Mas não é. Impunes ficarão os prevaricadores. Outra vez!

Tenho dito!
jpv

NetWorkedBlogs