Alada


Alada


Na clássica e sugestiva pose
Em que o corpo se estende
Na chaise longue
Assim como se nos chamasse,
Tu te entregavas ao sono.
A cabeça recostada,
Uma perna sobre a outra deitada,
Ao abandono.
Curvilínea e sensual,
A nádega.
A face, gentil.
O olhar, perdido
E sonolento
Como se não percebesses o momento.
A juventude alva
Da perna estendida
A desafiar os perigos
Da vida.
Da tua,
Que minha não navega, já, esses rios.
São maiores os frios
Da alma
Que as excitações.
Para mim, és só um quadro
A despertar emoções.
Um desvario contido.
Um louco amor imaginado
Para não ser vivido.
Lembras-me a escultura
Da donzela recostada.
És mais donzela
Do que ela,
Tua libido não foi inaugurada,
Ou não te recostavas assim,
Oferecendo-me, a mim,
E à minha pobre vista gasta,
A emoção estendida
E vasta
De teu corpo
Usando dois bancos
Na carruagem
Onde fizemos esta viagem.
A tua, semi-nua,
corpórea e adormecida.
A minha, mais alada,
Etérea e imaginada.
jpv

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