Vai, Estranha, Vai



Vai, Estranha, Vai


Era preocupado
O teu olhar
E a tua pose contrita
Mas havia
Nesse sobrolho franzido
Uma linha bonita.


Era um traço
Pesado e sério,
Uma mãe preocupada,
Uma mulher atormentada
Carregando na face o mistério.


E tinhas nessa escuridão
Uma aura e uma luz
Grácil e feminina.
Elegante porte de menina
Que nos conduz
A alma para o desejo.
Seio firme e redondo,
Lábios a pedir um beijo.


E vi-te,
Por trás dos óculos escuros,
Uma lágrima atrevida.
E apeteceu-me abraçar-te,
Saltar, do preconceito, os muros
E devolver-te à vida!
Com uma carícia,
Uma festa,
Singelo beijo na testa
Pousado.
Sem mácula
Nem pecado.
Só a ressurreição.


Mas é este
O mundo em que vivemos.
E não outro.
Um mundo onde vemos
Sofrer a elegância.
E deixamo-la
Entregue à sua triste
E solitária errância.


É este o meu abraço.
Este sou eu.
Não há entre nós
Qualquer laço
Para além deste
Gesto meu.
Anónimo.
E honesto.


E que a vida
Te sorria.
Que esta passagem
Breve e fugidia
Te traga o sol
E a alegria.
Que a singeleza
Da tua cintura
A abrir-se para a anca larga
Possa subjugar dos homens
A natureza amarga,
E frutificar em amor
E sucesso.
Em harmonia, como tu.
Sem excesso.


Vai, estranha, vai.
Leva contigo as intenções
E a fortuna.
Eu sou poeta,
Bastam-me da vida
Os estilhaços dispersos
Que vagueiam, indecisos,
No ondular dos meus versos.
jpv

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