I - Primeira Estação
Jesus é condenado à Morte
Condenado à morte.
Entregue à minha funesta sorte.
Já nascido,
Preparado, já,
Para a caminhada.
O pó nos pés,
Pela frente,
A imensa estrada...
Nasci condenado,
E tenho no horizonte
Uma vida inteira.
Inspiro a luz,
Bebo o azul
E é dessa bebedeira
Libertadora
Que nasce a vontade,
Do espírito, dominadora.
Ir mais além!
Descobrir,
Soltar amarras.
Içar velas
E partir.
Tenho o caminho traçado.
Há nele virtude,
E há nele pecado.
Há nele desejo,
Homens
E mulheres,
E há opções,
A escolha das direções,
As feitas
E as que ficaram
Por fazer.
Umas determinaram o meu ser.
Outras,
O meu ser determinaram.
Ainda agora nasci
E sei que vim para morrer
Por quem nunca
O virá a merecer.
É trágica a fortuna
De poder escolher tudo
E nunca poder
Escolher coisa nenhuma.
Chamastes livre, ao arbítrio,
Mas de livre tinha pouco.
Nasci são,
Entreguei-Vos minh'alma na mão
E morri louco.
É ingrata e dura
Essa sublime paixão
A que Chamastes loucura,
E é a única verdade,
A única genuína liberdade.
A que se realiza
No limite da insanidade,
Nesse paraíso
Onde não há tempo nem idade.
O Senhor esteja convosco,
Dissestes,
Mas não Viestes
Para o meio de nós.
E, assim,
nascemos sozinhos
E morremos sós.
Seguirei Vossas palavras
Desenhando meu caminho.
Evitarei o falso ouro
Que seduz
E,
Para merecer o que me não Dareis,
Carregarei às costas,
A nossa pesada cruz.
jpv - Via Crucis - I