Agradecimento Público Contido


Durante muitos anos, ouvi o meu pai falar de como, certa vez, o pai dele, meu avô, vendeu um terreno por boca. O comprador chegou-se ao pé dele e disse:
- Ó senhor Videira, vossemecê podia-me vender aquele pedaço de terreno ali ao Santo António.
- E para que o quer vossemecê?
- Ora, para que é que havia de ser? Para o cultivo. E depois cá há de ficar para os meus.
- E porque não? Quanto quer vossemecê dar por ele?
- X.
- X seja.
E não assinaram papéis. Bastou a palavra de um e a do outro. Toma lá o dinheiro, dá cá o terreno. Mais tarde, falecidos os dois, os descendentes trataram de pôr tudo noutra ordem. Preto no branco. E lá se foi o ouro precioso da confiança.

Recentemente, fiz uma transação desse tipo e consegui ir ainda mais longe do que o meu avô. A razão é simples. Transacionei por boca, como o meu avô, mas sem dinheiro. Uma coisa do tipo, Toma lá disto que eu tenho e dá cá disso que tens tu para dar. E não estou a falar de feijões. Estou a falar de estarem vidas envolvidas.

Nestes casos, a única moeda válida é a confiança. E como é que se sabe que as notas não são falsas? Não se sabe! Confia-se. É por isso que se chama confiança. Uma coisa vos garanto: superado aquele momento inicial em que estamos medindo a decisão, uma vez assumida esta, há poucos sentimentos mais reconfortantes e realizadores do que confiar-se numa pessoa só porque sim.

Agradeço ao D., intermediário da transação, por nos ter apresentado a todos, primeiros e segundos outorgantes da vida, da confiança e da ação dos homens de bem.

jpv

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