Crónicas de África - Coisas que Não Há em Maputo



Coisas que Não Há em Maputo

Maputo, 30 de outubro de 2012


São 7 horas da manhã. Levantei-me às 5:30 e estive a preparar aulas. Tenho agora um bocadinho para escrever-vos umas linhas que me andam atando um nó no cérebro até que saiam. Há coisas que, simplesmente, não há em Maputo.

Não Há Prisão de Ventre
Seja por via do peixinho comprado junto à fortaleza, das carnes adquiridas no Terra e Mar, da alface do Mercado Central, da água de lavar os dentes, da fruta nas vendas da rua, em Maputo, sobretudo se és europeu e acabado de chegar, não há prisão de ventre! Nem para os mais teimosos!

Não Há Pressa em Maputo
Bem podes procurar! Talvez um ou outro português te arranje um bocadinho de pressa, mas, na generalidade, Maputo, sendo uma grande urbe, é também uma pacata aldeia com filas de trânsito. E sem pressa!

Não Há Stress em Maputo
É uma clara consequência do item anterior. Esperar, num restaurante, uma hora ou mesmo hora e meia para ser servido, não é mau serviço, é um ritual encarado até como muito interessante para se por a conversa em dia. Claro que há um ou outro que exaspera. Deve ser o tal português que ainda tem pressa!

Não Há Falta de Casamentos em Maputo
Nos últimos tempos, em Portugal, encontrar um casamento é algo assinalável!  Quem é que tem a ousadia de se meter nisso?! Logo, a indústria casamenteira, como todo o país, está em crise. Em Maputo é ligeiramente diferente. Vejamos o seguinte: há aqui uma instituição do tipo Registo Civil que se dedica exclusivamente a casamentos. E os casamentos são tantos que já começa a haver celebrações à sexta-feira uma vez que os sábados e os domingos já estão totalmente requisitados. Se, num fim de semana, só viste dois casamentos, isso quer dizer que o passaste enfiado em casa e só saíste uma vez para ir ao pão. Se viste quatro, isso quer dizer que podes ter ido almoçar fora. Se deste uma volta pela cidade no sábado e no domingo, podes ter contado seis, oito ou mais eventos do tipo. O noivo dá um dote que inclui a festa da celebração e as roupas dos familiares chegados da noiva. É engraçado de ver porque as mulheres vão todas de igual e normalmente com roupas de cores muito exuberantes. O tipo endivida-se com a celebração, mas isso não é novidade.

Não Há Divórcios em Maputo
Quer dizer, entre os imigrantes há. Sobretudo porque alguns resolvem casar-se com moçambicanas! Mas entre os moçambicanos é um fenómeno raro e as razões são, sobretudo, duas. A primeira é porque uma pessoa não se casa para se divorciar! Pois, há por aqui um certo sentido de não desfazer o que já foi feito. A segunda é que o divórcio é um dos atos jurídicos mais caros de Moçambique. Custa mais do que um casamento. A consequência é óbvia...

Não Há Bancos Sem Fila em Maputo
Dão-se alvíssaras a quem encontrar o primeiro. Se fores o primeiro a chegar a um banco, logo pela manhã, e quiseres fazer um simples levantamento, isso é  rápido, demora 35 a 40 minutos. Qualquer ação num banco a meio da manhã é obra para 60 a 90 minutos. E as filas lá estão! Há muitos bancos em Maputo, uma vasta oferta de locais. Mas há muito mais gente. Reparei num pormenor curioso a este propósito. Em Maputo toda a gente, até os jovens, muito jovens, sempre que têm algum dinheiro, vão ao banco fazer depósitos. É uma espécie de culto da poupança. Isto parece contraditório com o espírito de um povo que vive para o presente, mas é um facto.

Não Há Um Único Lugar de Estacionamento Não Vigiado em Maputo
Chegas, estacionas o carro, seja no local mais concorrido da cidade, seja num ermo onde não está ninguém e vem chegando um jovem para ajudar a arrumar e ficar a "controlar". Quando estás num local muito pacato e não vês ninguém à volta, até podes pensar, Aqui que dava jeito um "controlador", não aparece nenhum. Engano teu. Quando desligas a ignição, ele vem chegando numa corridinha silenciosa, Quer que lave? Não, basta controlar. E fica controlado!

Espero não ter desconseguido interessar-vos e dar-vos mais umas luzes do que é a vida em África, nomeadamente, na capital moçambicana. Sim, esse verbo usa-se assim. E, a meu ver, usa-se muito bem. Se me tentares convencer do contrário, vais desconseguir!

jpv

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