Crónicas de África - Visita à Macaneta


Visita à Macaneta

Maputo, 31 de outubro de 2012

Num destes domingos, decidimos visitar a Macaneta. Digamos que é a praia mais próxima de Maputo onde, efetivamente, há condições para se desfrutar de um dia de praia. E o investimento foi bom. Sobretudo porque se revelou uma visita muito interessante em diversos aspetos, desde logo, a viagem em si. O tempo estava indeciso, mas isso não nos assustou. A Macaneta é uma língua de terra que, dum lado tem o rio Incomati e do outro o oceano Índico. Não se acede de carro. É preciso ir até Marracuene e atravessar o rio num ferry. Pelo menos, disseram-nos que era um ferry. Quando lá chegámos, não era. Mas isso pode esperar! A primeira decisão foi escolher a estrada. Ir pelo asfalto e demorar cerca de 15 minutos a chegar a Marracuene, ou ir pela estrada de terra e demorar... o que demorasse! Demorou cerca de duas horas a fazer 30Km. A viagem foi interessantíssima. Assistimos gradualmente à substituição do urbanismo pela ruralidade. A estrada é larga. Tão larga quanto os enormes "lagos" de lama que a atravessam totalmente e que é preciso passar, tão larga quanto as lombas que é necessário subir e descer. Ou nuns, ou noutras, ficou a nossa chapa de matrícula da frente! Pelo caminho, as mesmas assimetrias da cidade. Casas enormes e muito bem acabadas e outras muito pequeninas e humildes. Vendas de beira de estrada, cafés, pontos de venda de crédito para telemóvel, cabeleireiros e até um cibercafé. Mangueiras enormes carregadas de fruto, miúdos correndo pela estrada, pessoas dirigindo-se a um casamento que acontecia nesse dia, e, sobretudo, muita gente nos saudando só pela alegria de o fazer, Bom diiiia!, Bom diiiia! Demos boleia a uma senhora idosa que ia para a missa. Sou católica, disse ela como se fosse uma carta de apresentação. Agradeceu os quilómetros que poupou às pernas.

Marracuene é uma terra muito pequena, mas muito agradável. Tem um jardim bem simpático com uma vista fabulosa sobre o rio donde se podem ver os dois cais do ferry de ambos os lados do rio. Olhámos e não vimos o barco. Olha lá, tens a certeza que era nesta terra? É que se veem lá em baixo os cais, pessoas à espera do barco, movimento, mas não se vê o barco o que é esquisito porque a travessia deve ser aquela. Olha e se fôssemos lá ver? Vamos. E fomos. E não estava lá o barco, mas estava lá uma simples jangada a motor que, vista lá de cima, parecia a continuação do cais. Leva 6 carros de cada vez se dois deles forem com a frente de fora dos limites da embarcação. Nada de mais. Sigamos. E seguimos.

O primeiro impacto que sofremos na Macaneta foi o contacto com enormes manadas de vacas e uma fantástica diversidade de aves. Há pássaros exóticos para todos os gostos. Sobretudo na zona pantanosa junto ao rio. Uns pequeninos, muito amarelos e muito mexidos, uns pretos com o começo das asas em castanho fulvo, outros cinzentos, com as patas amarelas e muito altas, uns patos parecidos com mandarins mas muito mais escuros, garças brancas, cinzentas, corvos de gola e mais uma série de surpresas com penas. Pelo caminho, magotes de miúdos dançavam à beira da estrada à espera de uma moeda e uma vez no extremo da língua de terra, é possível fazer uma caminhada pela areia com o rio de um lado e o mar do outro. Aproximou-se um homem de mim. Trazia uma lagosta na mão e ofereceu-ma por 100 meticais (mais ou menos 2,70€). Eu recusei porque não tinha onde a por, mas a Paula gozou tanto comigo por ter recusado um negócio tão vantajoso que comprei a próxima que me ofereceram. Os homens e os rapazes usam umas embarcações estreitas, de varas atadas, levam pequenas redes e pescam poucas peças de cada vez. Saem do mar e vêm vendê-las na praia.

Depois, visitámos a ponta oposta da Macaneta e reparámos que estava repleta de lodges que exploram a tranquilidade, a beleza da paisagem e, claro, a presença do mar. Passámos por uma aldeia completamente erigida em casas de palha. As mulheres estavam trabalhando e os homens deitados pelo chão. Um deles viu-me com a camisola do Benfica e disse-me, Para aí para eu tirar uma foto. Ok, estás à vontade. Ele não está com meias medidas, saca de um iPad última geração, tira a foto e grita, Benfiiica! E pronto, é assim, esta terra, a cada esquina, um contraste.

No regresso, a jangada estava avariada. Parece que é comum. Era preciso um tubo qualquer e o "comandante" estava à espera que alguém lho trouxesse. Quando perguntei quem é que traria o tubo, ele foi muito claro, Ora, o primeiro que aparecer e trouxer um pedaço de tubo! Até me arrepiei, mas o certo é que dez minutos depois apareceu um sul africano com uma pick up e por acaso tinha um pedaço de tubo daquela largura. Serrou-se à medida e já está. Viemos pelo asfalto e almoçámos num local que é uma espécie de jardim interior de uma casa onde há umas cabanas e cada uma delas tem uma mesa onde se pode almoçar. Tirando a demora, acho que foram caçar o frango para o matar e para o assar depois, correu tudo bem...

A Macaneta vale a pena, sobretudo pelas aves e pela zona onde se pode caminhar com água doce de um lado e o mar a bater do outro. Mais um contraste, na terra deles...
jpv

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