Crónicas de África - Chamego


Crónicas de África - Chamego

Maputo, 28 de fevereiro de 2013

Qualquer texto é subjetivo. Todas estas Crónicas de África vivem da subjetividade da minha própria e pessoal visão em relação ao mundo que me rodeia. Logo, eu acredito no que escrevo mas sei que não estutuo verdades. Enfim, escrevo as minhas verdades. Vem esta introdução a propósito da consciência de que as palavras que se seguem podem estar feridas de imprecisão. Ainda assim, correspondem, rigorosamente, ao que observo.

No que respeita aos relacionamentos entre homens e mulheres, tenho observado algo de muito curioso que, penso, carateriza o comportamento dos moçambicanos e das suas doces moçambicanas. Em relação aos europeus, o povo moçambicano tem uma aproximação muito mais célere, são velocíssimos na palavra, no olhar, na insinuação e fazem avanços e progressos no processo de enamoramento que ultrapassam os europeus de longe em rapidez porque saltam barreiras, não querem saber de preconceitos nem salamaleques. Querem o querem, dizem com o olhar o que querem e concretizam-no em palavras. São fogo os moçambicanos. São brasa ardente as moçambicanas. Envolventes com as palavras, picantes e provocantes com o olhar e rápidos no chamego.

Ora, dito isto, seria de esperar uma atitude mais explícita e publicamente mais visível. Mas não é isso que acontece. São comedidos em público, têm um pudor particular nos gestos e nos atos de afeto que desacelera a impetuosidade do chamego inicial. Considero isto muito curioso, porquanto um homem europeu tem uma série de pruridos na aproximação, tem suas prudências, faz pequenos progressos e leva dias, semanas ou mesmo meses até se mostrar, de facto, interessado. Contudo, uma vez constituído o casal, as manifestações públicas de afeto são bastante explícitas. Abraços, beijos na face, nos lábios e um apaixonado beijo na boca acontecem na rua com facilidade. Eu, que já reparei que o povo moçambicano é muito tátil, nunca vi um jovem casal ir além da mão na mão ou, vá lá, da mão na cintura. E param por aí. Mesmo em situações de festa com etílicos vapores a pairar no ar. Tudo isto é muito interessante uma vez que têm uma expressão corporal muito sensual, a sua forma de dançar é muitíssimo erótica e, contudo, em público reservam-se.

A sedução é fogo. O acasalamento é à porta fechada. Faz sentido. Ora, giro, giro, é ver estas duas matrizes fundirem-se no tempo e no espaço e Maputo, caros leitores, é um espaço e vive um tempo de fusão multicultural, e, como já antecipámos noutros textos, as diferentes culturas que aqui se encontram não andam descompassadas, ai isso é que não!
jpv

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