Citação e Mensagem a Gonçalo Martins da Chiado Editora

Gonçalo Martins - Chiado Editora


"É quase angustiante, depois de fazer comunicação de centenas e centenas de excelentes Autores desconhecidos, fazer comunicação de um Autor famoso: Envia-se um simples press release e em 24 horas existem dezenas de pedidos de entrevistas. Ao invés, quando se publica um livro de um Autor que não aparece na televisão, o mesmo é completamente ignorado, e é preciso implorar para ter, de vez em quando, direito a um apontamento de 3 linhas na imprensa..."
Gonçalo Martins, Chiado Editora

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Obrigado, Gonçalo, por dois aspetos. Em primeiro lugar, por se dedicar a autores desconhecidos, apostando no seu valor. Em segundo lugar, pela coragem desta nota em jeito de desabafo.

Os autores desconhecidos, por mais valor que tenham, enfrentam a dificuldade visceral que é entrar no mercado da publicação. E ninguém lhes liga nenhuma. Já um tipo qualquer, que até pode escrever de uma forma sofrível, ou mesmo má, se for apresentador de um programa de televisão, se tiver participado  no Big Brother, ou programa semelhante, ou, imagine-se, se for um crápula criminoso, consegue publicar com a maior das facilidades.

O problema, Gonçalo, é que já ninguém (enfim, quase ninguém) quer saber da qualidade. O valor social vigente é a visibilidade. Já ninguém quer saber da boa literatura. O que importa é se é vendável! 

Por exemplo, e vou citar a empresa porque o que digo é a mais absoluta verdade, um dia contactei o Grupo Leya para avaliar um texto para publicação. Eles responderam que, independentemente de virem a publicar ou não, responderiam SEMPRE, mesmo que demorassem uns meses. Eu remeti o texto. Passaram quase QUATRO anos e ainda não tenho resposta, nem terei. Contudo, se analisarmos as publicações do Grupo Leya no que respeita a prosa ficcional, entre alguns bons autores, também temos um amontoado de lixo escrito!

Depois, as editoras como a Chiado, surgem apresentando aos autores propostas honestas de publicação, mas que, a maior parte das vezes, não constituem mais do que edições de autor com uma chancela de uma editora, na medida em que a sustentabilidade da publicação assenta na compra de uma parte dos exemplares produzidos por parte do próprio autor. Ainda assim, admito, é um caminho. Um caminho difícil, porque, como o Gonçalo refere de forma quase angustiada, pode representar um excelente autor, mas tem de mendigar três linhas de divulgação.

Chegámos a este paradoxo: antigamente, publicavam-se bons autores, mas as pessoas não liam, agora que as pessoas leem, o mercado está empestado de lixo por entre alguns bons autores sendo que a maioria destes nunca publicará um texto e, mesmo que o faça, quem os comprará serão os amigos e familiares.

E arrisco, por iniciativa e responsabilidade própria, a extrapolar o seu pensamento para a blogosfera. Se um blogue falar de jogos da Playstation, de escândalos sexuais, de futebol, de roupas, ou publicar lamechices pseudo-literárias ganha, imediatamente, a visibilidade necessária para uma editora arriscar uma publicação. Se o autor do blogue persistir em produzir textos literários e reflexivos trabalhados e cuidados o mais certo é ter meia dúzia de leituras por dia.

O que era preciso, Gonçalo, era educar o gosto das pessoas, mas isso, a coberto da liberdade de escolha, já nunca mais será possível. A generalidade das pessoas consome o que é fácil e rápido. Qualquer leitura que dê um pouco mais de trabalho à mente é classificada como uma seca e morre por aí mesmo. Aliás, é o que acontecerá com este texto. Mas eu teimo, Gonçalo, teimo e teimarei sempre. Porque gosto de escrever bem e porque há cerca de 200 almas que todos os dias aqui vêm à procura disso e não da cor das cuecas do Cristiano Ronaldo!

Parabéns pelo seu trabalho e persistência!
Até breve!
João Paulo Videira

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