O meu pai deve ter sido o homem mais ponderado que conheci. Prudente, contido nos juízos de valor e nos raciocínios, era de uma humanidade e de um sentido de justiça ímpares.
E é curioso que, sendo benfiquista, nunca lhe ouvi rasgados elogios, por exemplo, ao grande rei Eusébio nem a qualquer outro jogador. Exceto Mário Coluna.
O meu pai falava do Senhor Coluna como o ganha-pão de Eusébio, o grande mestre do meio campo, o organizador, o distribuidor, o herói silencioso e pouco reconhecido.
E é verdade. Por via da posição que ocupava, mais distante dos golos do que o colega e compatriota, Mário Coluna não saltava para a ribalta das luzes, das fotos e das entrevistas com a mesma facilidade, mas era a ele que os colegas respeitavam, era ele que organizava a ação da equipa dentro e fora de campo.
Estes homens que se batem em nome de uma equipa, de um bem maior, merecem ser lembrados não só pelo seu contributo individual, mas, fundamentalmente, por terem percebido e executado o jogo na sua mais harmoniosa e maravilhosa vertente: a coletiva.
Até sempre, Senhor Coluna. Cumprimente o meu pai por mim e bebam uma geladinha juntos!
jpv