Manhã Serena


Manhã Serena

Manhã serena,
De sons raros.
Um homem que passa,
Uma mesa que se arrasta,
Um ardina agachado
Separando jornais.
A brisa corre,
Tranquila,
E há pouco mais.
Nem era preciso...
Todo o oiro
É conciso
E parece pouco.

A frescura verde
Do momento inaugural,
Manhã imaculada
Sem espaço para o mal.

Manhã serena,
De sons raros.
Um homem que passa,
Sentimentos caros.
Um aroma de café,
Um passarinho a debicar,
Uma mulher a caminho da Fé,
Um canto de ave corta o ar.

Manhã serena,
De sons raros.
E ergue-se a pena...
Mas, ó poetisa,
Não tenho teu mármore de Paros,
Nem guardo teus contidos beijos.
A mim,
Afloram e irrompem
Os desejos
Rudes e brutais,
Jactante palavra,
Vigoroso gesto,
Que não se contém jamais.
Quanto ao resto...
Palavras
E pouco mais.

E a urgência
De um barco
No teu corpo
Desenhando o arco
do prazer.
Mais que isso
É morrer!

É agora suprema,
A manhã,
Já se foi a tranquilidade
Regressou o ruído e o afã
Às veias da grande cidade.
A ela me entrego
E já não nego
O furor e o frenesim.
Na grande cidade,
Emerge a manhã inaugural,
Princípio de todo o fim.


jpv
Maputo, Março de 2014

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