Crónicas de África - Natal


Crónicas de África - Natal

Vilankulo, 22 de dezembro de 2012

Não há!
Não vale a pena estarmos com eufemismos nem rodeios, tal como se vive na Europa, aqui não há Natal.

É evidente que em cada lar cristão há Natal. Reunimos a família possível, invocamos a época com os símbolos do costume, o presépio, a árvore de Natal, o Pai Natal, as luzinhas a piscar. Mas isso é em nossas casas.

Do ponto de vista do quotidiano social, não há Natal por estas paragens e percebe-se porquê. As temperaturas são de trinta graus e mais, o ar é quente e húmido, as pessoas andam em chinelos, calções e t-shirt e metade da população portuguesa em Maputo voou para Portugal. A outra metade desandou para as praias. Não há iluminações de rua alusivas, nem Pais-Natal cintilantes, aliás, há um à porta da Socimpex, que é um armazém de bebidas na 24 de Julho. Não se ouve o ginglobel nas ruas, nem nas lojas, nem nos supermercados. Continuam a bombar os sons de Verão. Os funanás do momento. Os supermercados venderam uns enfeites e quatro tamanhos da mesma árvore natalícia, mesmo ali ao lado dos produtos para campismo, praia e lazer que saíram da prateleira e deixaram a rena triste e abandonada ao pé dos outros todos.


A comunidade cristã é vasta, mas a mescla cultural é tão ampla e está de tal forma impregnada no quotidiano moçambicano que a celebração do nascimento do Filho do Senhor se faz mais em casa de cada um e no coração de cada um do que pela profusão de símbolos invocativos pelas ruas. De resto, em Moçambique, o dia 25 de dezembro é feriado porque é o Dia da Família e não por uma relação direta com o Natal.


Aqui, em Vilankulo, a única árvore de Natal que vi até ao momento, foi uma pequenina que está na receção do lodge.


Por exemplo, eu estou sentado numa cadeira de recosto no alpendre de uma cabana de madeira e palafita, à minha frente o sol brilha e o mar reflete mil azuis, há barcos a dançar ao sabor das ondas e pessoas a banharem-se em roupas diminutas. A música é a das ondas pequeninas e da vegetação sacudida pela brisa. Como pode acordar-se o Natal na minha mente senão por um esforço propositado e consciente?


Quando estava em Portugal, costumava dizer, como toda a gente, que o Natal é quando um homem quiser e onde ele quiser e o que interessa é o espírito... eu continuo a achar isso, mas lá que o enquadramento faz falta, disso não haja dúvidas.


Em todo o caso, nem este blogue nem o seu autor deixam de desejar a todos os amigos e leitores, independentemente da nacionalidade, condição, credo, e quaisquer outras semelhanças ou diferenças que marquem a nossa humanidade, um Feliz Natal e um Próspero Ano Novo!

jpv

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