A minha mão
Na tua mão segura,
Não sei se te prende a mim
Ou se me prende a ti
Nessa sensação que perdura
Entre perder-te
E ter-te assim.
O meu peito
Ao teu peito entregue,
Não sei se bate o meu
Porque o teu quer
Ou se bate o teu
Porque o meu lhe empreste
A vida.
O meu olhar
No teu olhar preso,
Tem uma ânsia
E um fogo aceso
De libertar-te e reter-te.
Já foste.
Tinhas ido, já.
Estiveste cá,
Mas foste sempre de lá.
De onde a tua vida se faz,
De onde os demónios
Procuram a paz
E os anjos os atiçam com desejo.
Já foste.
E deixaste a tua presença
Forte.
E não há gume que corte
Este estares aqui,
Sempre.
Ausente do meu tato.
Presente no local certo e exato
De mim.
Sem ti
Não há universo
Nem motivo para que haja.
Morri já
E não sei.
Dei ao mundo a vida que dei
E resgatei a minha pobre
E atormentada alma
No momento em que te vi.
O primeiro,
E este último,
Ainda agora e aqui.
Gosto de ti
Cada vez mais
À medida que a vida se desenrola.
Seja a traçar sagaz teoria,
Seja a beber mais uma coca-cola.
E dói e sangra a tua liberdade
Em mim.
Esse sangue que precisa jorrar
Para que se realize
O homem
E eu possa, por fim,
Descansar na tua existência.
Ser pai não tem ciência,
Basta sofrer,
E ver-te crescer e partir,
E fingir
Que sou feliz com isso
E a espaços
Abraçar-te como se não houvesse amanhã.
Ser filho é bem mais difícil.
É a arte de navegar ancorado,
De partir amarrado
E nessa única
E singular partida
Reinventar toda a vida
E viver tudo de novo.
Gosto de ti
Cada vez mais
À medida que a vida se desenrola.
Seja a traçar sagaz teoria,
Seja a beber mais uma coca-cola.
jpv