Higiene e Segurança Alimentar para Mariquinhas
Se eu fosse cavalo, e não há provas irrefutáveis de que não tenha sido ou não possa vir a ser, estava pior que estragado. Ou então, ao contrário do que a malta pensa porque nos ensinam na escola, a bicharada é bem menos seletiva do que se diz e no mundo animal vai a maior das rebaldarias.
O pior é que, ultimamente, a tal da rebaldaria parece ser unânime em desprestigiar o outrora nobre e garboso cavalo. Vamos a factos que de argumentos a coisa vai fraca. Há uns meses surgiu num site da Globo.com, este, uma notícia que depois correu mundo em que uma pesada, patusca e deliciosa vaca, saltava obstáculos qual Pegaso alado. Que eu me lembre não houve reação do universo equídeo nem seus humanos representantes, ainda assim, a coisa foi vergonhosamente humilhante. Toda a gente sabe que, excetuando multinacionais de fast food onde se aprecia mais a minhoca e certas culturas orientais, a carne de vaca serve é para comer, mal passada de preferência, e não é cá para andar aos saltos.
Ora, ultraje dos ultrajes, o jornal Público, que devia andar a analisar assuntos sérios como, por exemplo, a crise nacional ou a inusitada moda da condenação de autarcas portugueses, publicou aqui uma notícia sobre o facto de ter sido encontrado ADN de cavalo em hambúrgueres de vaca. E o mais grave não é a descoberta em si. O mais grave é que isso é visto como algo de negativo ou mesmo prejudicial à saúde porquanto se informa que tais e suculentos hambúrgueres foram retirados do mercado. Com que direito? Pergunto eu. Acaso o cavalo é menos bom de comer que a vaca? É o aparecimento de tal ADN algo de extraordinário? A meu ver, se uma vaca pode saltar obstáculos por que raio não pode um cavalo aparecer num hambúrguer depois de uma noite bem bebida em que se embrulhou com a fêmea errada cuja prole acabou no matadouro? A mesma notícia refere-se aos hambúrgueres como produtos adulterados. Só pode ser engano. Quanto muito serão produtos adúlteros, mas, em minha modesta opinião, isso é lá com o cavalo e com a vaca e mais ninguém tem nada a ver com o assunto. Respeite-se a privacidade de cada um!
Depois, eu acho que anda por aí uma síndrome de Higiene e Segurança Alimentar para Mariquinhas. Eu ainda sou do tempo em que as Bolachas Maria se arrumavam na mercearia ao pé do sabão azul e vá-se lá saber porquê sabiam a... sabão! Eu ainda me lembro do que se fazia quando um garfo caía ao chão num restaurante. Não se fechava o negócio ao homem nem se despedia o empregado, apanhava-se do chão e limpava-se ao guardanapo e servia na mesma. Ainda me lembro, nas mercearias e supermercados dos gloriosos anos oitenta, dos pasteis de nata na vitrina do balcão onde, em baixo, figurava a carne de porco. Aquilo cheirava, mas nada que um assopro não resolvesse. Ainda sou do tempo em que o padeiro punha o pão para o saco com as mesmas mãos com que se coçava... não, não era nas costas. Aí ele não chegava. E ainda me lembro de haver pessoas a vender comida sem toucas na cabeça. E olhem para mim, quarenta e cinco anos, um metro e setenta dois quando endireito as costas e oitenta e seis orgulhosos quilos, felizmente, a transpirar saúde e humidade de Maputo.
Ora, porque é que se foi embirrar agora com o cavalo? Ou com uns vestígios de cavalo num hambúrguer de vaca? Vai-se a ver e aquilo eram as hormonas da vaca que queriam ser cavalo e saltar obstáculos! Por amor da Santa, deixem-se de mariquices alimentares e tratem da saúde ao país enquanto a malta come os hambúrgueres se os houver!
É claro que tinha de estar envolvida uma cadeia de supermercados com nome esquisito. Nestas coisas, é sempre bom que o mal aconteça onde os nomes são esquisitos. Até porque o cavalo é um bicho caprichoso, não se deixa vender em qualquer tasca! Foi no Lidl. E o que diz o Lidl? O costume, que nunca comercializou tais hambúrgueres "nem quaisquer produtos que contenham carne de equídeo". Aliás, se os jornalistas do Público continuassem a fazer perguntas, o senhor do Lidl acabava a dizer que o Lidl não existia. Lidl? O que é lá isso? Cavalo? Não, aqui não, cavalos é na Golegã!
Às vezes gosto do meu país, das pessoas nele, do jornalismo, das prioridades, das políticas... outras vezes prefiro os cavalos, nem que seja num hambúrguer de vaca! Olha, agora que estou aqui por África e vou conhecendo isto, esta notícia tinha um efeito engraçado era se aparecesse na África do Sul. Estou mesmo a ver um Sul Africano com dois metros e dez de altura e cento e cinquenta quilos de peso a reagir:
- Hã?! O quê?! Hambúrgueres de vaca com cavalo? Grelha-se já! onde é que isso está que a gente grelha já?! Mal um Sul Africano suspeita que haja proteínas animais por perto, agarra-se ao carvão e aos forfes e, pelo sim pelo não, faz uma fogueirinha! Isso é que é de homem. Agora lá estranhar o cavalo na vaca. Não faltaria!
jpv