Crónicas de África - Invocação
Maputo, 24 de fevereiro de 2013
Maputo é uma cidade emergente num país emergente. Percebe-se, pois, que tenha de conviver, no seu quotidiano, com assimetrias e disparidades de hábitos e recursos.
É assim que, na mesma cidade em que a tecnologia cresce e se mostra a cada dia que passa, há, em simultâneo, manifestações dos mais tradicionais e rudimentares processos de vida. Isto não é bom, nem é mau. É uma realidade com a qual a cidade e os seus habitantes se habituaram a viver.
Por vezes, este fenómeno pode ter uma faceta invocativa. E é por isso, por essa deliciosa faceta, que resolvi escrever esta crónica.
Ultimamente, temos feito umas caminhadas a pé cruzando diversas zonas da cidade. Faz-se um pouco de exercício, areja-se o cão e conhece-se mais de perto a urbe que nos acolhe. Ora, nesses passeios, quando passamos à porta das habitações, é muito frequente as nossas narinas serem invadidas pelo agradável e, lá está, invocativo cheiro do carvão em brasa.
Em Maputo é comum usar-se o carvão para cozinhar. Não só grelhados. Cozinhar tudo. Cozer arroz, fazer um guisado, assar um churrasco, fazer uma xima ou uma matapa. Uns porque ainda não estão em condições financeiras de recorrer ao fogão a gás, outros porque nunca desaprenderam a cozinhar no carvão, acendem os fogareiros a meio da manhã e a meio da tarde e pouco depois começam a confecionar as refeições.
E é assim que numa cidade repleta de veículos motorizados, computadores, telemóveis, caixas atm, onde os centros comerciais e a tecnologia assinalam a modernidade, de repente, numa breve caminhada, é possível sentir o cheirinho de um churrasco na brasa como fazia a minha avó há trinta anos atrás.
jpv