Crónicas de Maledicência - A Renúncia de Bento XVI
Nascem e crescem em profusão as reações ao anúncio de renúncia de Bento XVI no passado dia 10 de fevereiro. Também reagiremos. Temos esse direito. Talvez no sentido menos óbvio da reação.
É fácil agora levantar nuvens de fumo e entrincheirar argumentação envolta em mistério e suspeita. Como Cristão Católico, entristece-me a renúncia e entristecem-me tais alinhamentos de raciocínio.
A Herança
Em primeiro lugar importa relembrar que Bento XVI herda um exercício exemplar e até um pouco anormal de João Paulo II. Qualquer que fosse o Papa que lhe sucedesse teria de viver com as inexoráveis comparações com um dos mais reconhecidos Papas de sempre. Ainda assim, Bento XVI abraçou com humildade o ministério e, se esteve longe do trabalho de João Paulo II, também não ficou conhecido por nada de extremamente negativo no seu exercício. Adotou uma atitude serena e com ela esteve à frente dos destinos da Igreja Católica nos últimos oito anos. E a verdade é esta. Já passaram oito anos e não se pode dizer que os piores prognósticos se tenham confirmado. Pelo contrário. O Papa passou este tempo de forma discreta, como se impunha.
O Ofício de um Homem, a Fé de Biliões.
Em relação à renúncia, importa notar que um homem, mesmo sendo o Papa, não substitui a fé de biliões... Assim, o que importa é mesmo a forma como cada um de nós, mais ou menos praticante, reacende a sua Fé em cada dia que passa, se entrega àquilo que acredita pelos meios que considera mais adequados. O Papa será importante enquanto líder da Igreja, mas o que faz a Igreja é a Fé dos seus seguidores e essa ainda não renunciou.
As Razões e o Gesto
As razões invocadas são percetíveis. Bento XVI fez um discurso simples, claro e muito objetivo. As razões compreendem-se e respeitam-se. E o gesto louva-se. Acredito mesmo que, sempre que um líder de uma igreja, que um diretor de uma empresa, de uma instituição, que o detentor de um cargo político, não tivesse condições para exercer, assumisse esse facto com naturalidade e renunciasse, eventualmente, não viveríamos a crise que estamos a viver. É que a nossa história recente está povoada de gente que não tinha condições nem capacidadse e persistiu... no erro de tentar governar aquilo que, visivelmente, já não era capaz de governar.
jpv