Efeméride

Não há já o fulgor e há quem diga que é normal. Que o fogo esvanece. Que a energia fenece. Que a entrega enfraquece e se encosta à rotina, com a idade. Mas eu quero ainda o o fogo, a energia, a entrega e o pueril vigor que me dizem não ser da minha idade ainda cá mora. Dancei nas curvas do teu corpo agarrado a ele projectando sombras no chão, silhuetas da aventura de sermos um só na mesma loucura. E, entretanto, entrou aqui algures, por entre os espaços que os corpos sempre abrem entre si essa ideia da idade. A idade do corpo. Então e a outra? E pergunto-me, será que alguém sabe a idade de alguém? Conhece alguém a sua própria idade? Ou a idade é o que fazemos com o tempo e a vida. São as virtudes e os pecados. Só não consta da nossa idade o que não vivemos. E isso não se deixa, só, de contar: desconta-se! E o teu corpo, outrora visita constante é hoje mais um irmão do que um amante. Está presente mas não me invade. Sinto-lhe o calor mas não o fogo. Eu sou mais uma presença a que te habituaste do que a África quente, harmoniosa e sensual que exploraste. Deixámos há muito de pecar! E faz falta à pureza de um amor inflamado, o sabor picante e vivo do pecado.

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