De Negro Vestida - XXVII


Despertar – I
A verdade é que não nos conhecemos. Enfim, sabemos quem somos, como nos chamamos, que roupas gostamos de vestir e que comida preferimos comer mas, de tempos a tempos, surpreendemo-nos a nós próprios com um pensamento, uma frase, um gesto. Esta ignorância de nós, cristalizamo-la com expressões simples e vulgares do dia-a-dia que dizem pouco, parecem dizer pouco, mas que emanam esse inconfundível perfume de desconhecimento em relação àquilo de que somos capazes. E é por isso que estando, por vezes, a falar, os lábios e a língua e o céu da boca articulam sons que são palavras e podem elas dizer verdades que não esperávamos.
- Onde é que eu estava com a cabeça?
- Nem parece coisa minha!
- Como é que fui capaz?
- Nem acredito no que fiz!
E outras tantas e tantas mais ainda andam bailando nos lábios e no ar dizendo-nos que não nos conhecemos. Que não percebemos a origem de certos pensamentos em nós. De onde vêm sentimentos inesperados. Comportamentos inusitados. Palavras desabituadas.
A mulher de que vos contarei agora está vivendo um desses momentos.

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O Romance "De Negro Vestida" foi publicado, capítulo a capítulo, neste blogue, entre 26 de janeiro de 2010 e 22 de abril de 2011.

Agora que conhecerá outros voos, nomeadamente, a publicação em livro, deixamos aqui um excerto de cada capítulo e convidamos todos os amigos e leitores a adquirirem o livro.

Obrigado pela vossa dedicação.

Setembro de 2013

João Paulo Videira

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