"Vírgulas e tentações" disse o Vaidoso que morreu algemado às mãos das suas indecisões e da sua retórica excelente magnífica soberba mais do que qualquer palhaço ou juiz. Mas o Vaidoso sabia, como o louco magrinho rápido dos óculos sabia, e como eu sei, e como sabia o Bonito e o Sátiro, que as torres tinham de arder, tinham de arder e cair até os Vilões das Montanhas do Quadrado decidirem que um lavatório de mármore é de facto algo por que morrer e matar, mais do que pelas galinhas e do que pela senhora Quicas que lá andava a fazer o melhor que podia ainda que o menino mimado e o operário não entendessem que esta senhora era imortal. Esta senhora viveu entre todos os lavatórios de mármore e todas as torres em chamas, e esta senhora viu os juízes sorrirem e os palhaços cantarem e os músicos ficarem invejosos às mãos do dono do macaco que tocava realejo.
Morte das velhas e pulgas saltitantes e desbotados doentes e magros que lêem nas suas águas furtadas estórias de juízes maus e palhaços bons. Este foi o ponto de interrogação que causou o mundo a ver o mundo às cores e não ter em conta que a velha não morre e não morre e não morre por mais que o bandido da máscara mate a sua filha e os pobres que só querem fritar em óleo porque julgam que os vai fazer mais modernos. Malditas pulgas, filhas da puta das pulgas, filhas da mãe, e eu sou uma delas.
A lição que se pode tirar desta história é que as sarjetas são a equação que rege tentações e assassinos quer estejam em desequilíbrio ou no topo do rochedo que está virado para o Mar dos Astronautas, enquanto todos os soldados do mundo sobem aos céus até os Deuses dizerem " Não queremos mais, estamos fartos, agora vai-me buscar um copo de leite." Sofrem invejosos como juízes e virtuosos como o sumo da maçã que ditou o futuro do mundo.
Eu tal como o Deus Dançante também pedi um copo de leite enquanto os nós dos meus dedos reluziam com sangue azul, mas eu aprendi a ver-me como o engordurado que juntava as mãos e dizia que não sabia o que fazer.
Ele via-me como algo muito belo que definha enquanto toda a beleza do mundo se esvai perante os seus olhos e todos os loucos reclamam o que é por direito seu e todos os Vilões das Montanhas do Quadrado se apercebem que são os Bebés do espaço e que todos os rolos em que se espalharão as motas do mundo os terão como protagonistas.
Eles sim são os protagonistas e não as pulgas construtoras dos seus tronos, e por mais que berrem nos seus leitos de azul como num sonho de cacos de vidros e uma casa em ruínas que eu tive, eu sei, assim como o Deus bebedor de leite sabe, e o magrinho rápido dos óculos sabia e o poeta loiro que dormia com a assassina receava e o Vaidoso morreu sem saber, que o novo centro de cidade terá às suas cavalitas os seus corações enquanto todos nós ficamos deitados ao pé da máscara amarela e do vaso de Júlio Verne, e todas essas iguarias que um dia apimentaram o meu prato de mármore.
Mas vós não tendes de deixar de pregar o que vos é devido pois o único dever da Londres Vitoriana que tendes de cumprir é de facto pintar o cabelo de roxo e lavar os dentes de galinhas, e gritar sobre as pontes que a doença do magrinho rápido dos óculos é na verdade a camisola que todos devemos vestir, e que as chamas fazem bem ao colesterol, e que duas pulgas amigas e roxas são mais dignas do que bigodes curtinhos e casacas azuis.
Eu cá gosto de casacas azuis e lavatórios de mármore, só os destruí com o martelo que veio das Montanhas do Quadrado e das pulgas porque estava a bocejar tal como o Vaidoso bocejava. Não me justifica mas também o juiz está com a senhora Quicas logo não sobrou ninguém para me julgar e de qualquer das formas, os cactos crescem sem que ninguém os regue.
Cumpri o vosso dever. Eu não o farei.
Iago Videira