Contos da Casa

Há pouco dias conheci uma educadora de infância, de seu nome Cristina Becho, que transpirava naturalidade e genuinidade. Pareceu-me daquelas pessoas que já não tem idade nem paciência para máscaras, fingimentos ou fretes. Tem uma coragem descarada na forma como encara a vida e o que esta tem para dar-lhe. Na circunstância em que a conheci, numa acção de formação, pareceu-me pessoa de palavras francas e pouco demoradas no apresentar do que pensa ou sente. E, mesmo à portinha da alma, vi-lhe meninos conversadeiros no olhar. Ou me enganava muito, ou aquela pessoa era de boas e longas conversas. Não me enganei.

Soube, pouco depois, que publicara um livro chamado Contos da Casa através da Chiado Editora. Como estava a vendê-los, vicissitudes dos autores do Séc. XXI, decidi comprar-lhe um. E aconteceu-me, então, algo que não me acontecia há muito tempo. Eu sou um leitor demorado, que volta atrás, relê, quer compreender bem e se compraz no deleite da leitura. Por isso mesmo, qualquer livro me leva semanas a terminar. Já não me lembro quando li um livro de um fôlego só. E foi isso que me aconteceu com Contos da Casa. Comecei num conto ao acaso lá para as páginas do meio, "A Louca", terminei-o. Vim ao início e num fôlego de uma noite e uma madrugada consecutivas li o livro.

Tem uma profundidade no sentir, uma sensibilidade sensorialista, uma vida em voragem vertiginosa de personagens, cenários e situações, tem verdade e é genuíno como genuína me parecera a mulher que o escreveu. A sua escrita não se perde em rendilhados, é fluida, assim como quem vive e ler os contos de Cristina Becho é viver a vida com ela, pela mão dela. E, ao jeito dos contadores de histórias portugueses, tem seus mistérios e suas excentricidades. Tudo na medida certa. Quando terminei tive pena que tivesse acabado. Apetecia-me ficar por ali a viver um bocadinho mais com aquelas personagens, naqueles locais.
Obrigado, Cristina.

João Paulo

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