29/7/2010 - 20:03h. - Atenas
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Praça Monastiraki. Este momento tem de ser registado. Cristalizado. Tem demasiadas coisas interessantes para que se perca na bruma da memória. O dia começou com pequeno-almoço em Lisboa. Teve almoço em Zurique. E termina com jantar em Atenas. Sandes de pataniscas de bacalhau confeccionadas na Zibreira são jantar em Atenas. Água, Coca-Cola, sumo de laranja. Sumo de laranja em grego é fácil de decorar. Diz-se "portucali".
-A Praça Monastiraki é o coração da cidade antiga. Está rodeada de ruas estreitinhas onde quase não se consegue passar por serem tantas as pessoas e por terem sido ocupadas pelos expositores dos comerciantes. Todas estas ruas e as gentes nelas desembocam na praça. Ouve-se falar português, espanhol, italiano, inglês, alemão, árabe, coisas que soam a nórdico e, sobretudo, ouve-se o doce e sibilino grego. Há brancos, pretos, amarelos, europeus, sul-americanos, indianos, africanos, libaneses, paquistaneses, cristãos católicos e ortodoxos e muçulmanos. Ainda agora passou aqui uma moça tão ocidental e europeia como qualquer rapariga de Torres Novas e atrás dela ia um homem antigo de barbas longas e longas vestes negras. A polícia ocupa o centro da praça e, num pacto tácito, retira-se e surgem os vendedores de lençol estendido no chão. Quando aqui chegámos, esbarrámos nas bancadas de fruta e comprámos uvas tintas e quentes como o ar de cá e jantámo-las com as sandes portuguesas.
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E, num toque supremo da mais absoluta promiscuidade entre o religioso e o pagão, a praça tem, como o nome indica, um mosteiro ortodoxo vigiado lá do alto pelos deuses que habitam a Acrópole. Há músicas no ar e há, sobretudo, cheiros e odores diversos. Assim, de repente, cheira-me a kebab, a carne grelhada, a especiarias, a moussaka, a um intenso caril e a café. Peço um café grego que é aquecido num recipiente metálico com um cabo longo mergulhado em areia ardente. As pessoas sentam-se pelos muretes da praça e depois dispersam-se pelas esplanadas.
E penso em casa. E penso que às vezes dizemos ou ouvimos dizer que quem usa a Internet é um cidadão do mundo, um ser global e não posso deixar de pensar que estar na Praça Monastiraki num fim de tarde quente de Verão é que é, efectivamente, ser-se um cidadão do mundo. É ver, sentir, cheirar e provar a vida a sério, a vida que havia antes da mentira digital e aquela que continuará depois dela. A vida das pessoas de verdade.
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Praça Monastiraki. Este momento tem de ser registado. Cristalizado. Tem demasiadas coisas interessantes para que se perca na bruma da memória. O dia começou com pequeno-almoço em Lisboa. Teve almoço em Zurique. E termina com jantar em Atenas. Sandes de pataniscas de bacalhau confeccionadas na Zibreira são jantar em Atenas. Água, Coca-Cola, sumo de laranja. Sumo de laranja em grego é fácil de decorar. Diz-se "portucali".
-A Praça Monastiraki é o coração da cidade antiga. Está rodeada de ruas estreitinhas onde quase não se consegue passar por serem tantas as pessoas e por terem sido ocupadas pelos expositores dos comerciantes. Todas estas ruas e as gentes nelas desembocam na praça. Ouve-se falar português, espanhol, italiano, inglês, alemão, árabe, coisas que soam a nórdico e, sobretudo, ouve-se o doce e sibilino grego. Há brancos, pretos, amarelos, europeus, sul-americanos, indianos, africanos, libaneses, paquistaneses, cristãos católicos e ortodoxos e muçulmanos. Ainda agora passou aqui uma moça tão ocidental e europeia como qualquer rapariga de Torres Novas e atrás dela ia um homem antigo de barbas longas e longas vestes negras. A polícia ocupa o centro da praça e, num pacto tácito, retira-se e surgem os vendedores de lençol estendido no chão. Quando aqui chegámos, esbarrámos nas bancadas de fruta e comprámos uvas tintas e quentes como o ar de cá e jantámo-las com as sandes portuguesas.
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E, num toque supremo da mais absoluta promiscuidade entre o religioso e o pagão, a praça tem, como o nome indica, um mosteiro ortodoxo vigiado lá do alto pelos deuses que habitam a Acrópole. Há músicas no ar e há, sobretudo, cheiros e odores diversos. Assim, de repente, cheira-me a kebab, a carne grelhada, a especiarias, a moussaka, a um intenso caril e a café. Peço um café grego que é aquecido num recipiente metálico com um cabo longo mergulhado em areia ardente. As pessoas sentam-se pelos muretes da praça e depois dispersam-se pelas esplanadas.
E penso em casa. E penso que às vezes dizemos ou ouvimos dizer que quem usa a Internet é um cidadão do mundo, um ser global e não posso deixar de pensar que estar na Praça Monastiraki num fim de tarde quente de Verão é que é, efectivamente, ser-se um cidadão do mundo. É ver, sentir, cheirar e provar a vida a sério, a vida que havia antes da mentira digital e aquela que continuará depois dela. A vida das pessoas de verdade.
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