O Mar a meus pés

O comandante na proa. O texto foi escrito exactamente ali. Sentadinho, claro.
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Aqui andei ao banho no dia seguinte. Como o mar estava encapelado, bastou sentar-me e esperar que as ondas rebentassem e fizessem cascata por cima do rochedo. Emoções fortes a custo zero!
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[No passado dia 3 de Outubro, a minha família resolveu oferecer-me como prenda de anos um fim-de-semana na praia. Assim para relaxar. Escrevi por lá umas coisitas incluindo o texto que transcrevo abaixo e que decidira não publicar porque me faltavam imagens apropriadas e porque gostava pouco dele... Sei lá, coisas de gente tonta. Acontece que os cunhadinhos, Luís e Sandra, acabaram de me oferecer um powerpoint do fim-de-semana onde estão algumas fotos que, a meu ver, caem que nem ginginhas no texto. Vai daí, enchi-me de coragem e passei-o do manuscrito para aqui... Pois então divirtam-se. PS: um obrigado sentido à Paula, ao Iago, à Sandra, ao Luís, ao rochedo, ao mar e à saladinha de polvo!]
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Zambujeira, 3 de Outubro de 2010
O Comandante na Proa

É inglório procurar emoções fortes e intensas de forma artificial. Não conheço nada que cause tantas e tão maravilhosas sensações como a Natureza. E sem contra-indicações. Esqueçam as montanhas russas, o cinema, os jogos de computador, o futebol ao vivo, as drogas, o álcool. Esqueçam a velocidade automóvel, esqueçam os aviões e as motos. Esqueçam tudo e contemplem.
Há uns meses, escrevi neste espaço um texto sobre a Serra D'Aire e Candeeiros que se chamava "O Céu a meus pés". Agora é a vez do mar. Numa das praias da Zambujeira há um rochedo enorme que começa na areia e entra pelo mar dentro. Com maré baixa acede-se facilmente. Com maré alta também, embora tenha de molhar-se os pés. Trepei o rochedo e caminhei mar adentro. O oceano está agitado e as ondas batem com vigor mas cá acima não chega nada a não ser uma suave brisa, alguns salpicos desfeitos em frescura e o som portentoso do mar. Aqui onde me sentei, mesmo no limite do rochedo, tenho as ondas rebentando-me por baixo dos pés, a luz do sol dota a imensa espuma do mar de um branco neve, tão intenso que até fere. E sinto-me senhor do Universo e, ao mesmo tempo, pequenino perante esta força e este poder. É uma sensação maravilhosa poder estar dentro do mar e observá-lo e acariciá-lo com o olhar sem nos molharmos nem recorrer a nenhum instrumento artificial.
O rochedo é afilado e faz-me lembrar algo que nunca vi: um imenso navio petrificado que agora é todo meu para comandar. Se eu morresse agora, aqui, por qualquer fantástico fenómeno, não precisavam levar-me para lado nenhum, pois não há lugar melhor para um comandante que a proa do seu navio de sentir.

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