Um Pequeno Milagre Chamado Madalena


A carinha laroca e bem reguila que está na foto é a Madalena.
A Madalena é um doce de menina e, ao mesmo tempo que é um doce, é de uma insuperável energia e de uma vontade muito forte. Os primos que o digam!

O giro da coisa reside em como vim eu a ser padrinho da Madalena.
É interessante porque não foi uma obrigação daquelas em que se escolhe uma pessoa de família porque tem de ser ou porque ainda não é padrinho de ninguém ou porque está mais à mão. A verdade é que não sou da família. Pelo menos não sou da família de sangue. Tenho a certeza, no entanto, que sou da família dos afectos. O pai da Madalena é um amigo antigo, um homem honesto e trabalhador que conhece o valor verdadeiro e intrínseco da amizade. A mãe da Madalena veio a ser minha amiga mais tarde mas a sua generosidade e o seu sentido de família rápido me acolheram no seu seio.
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Por razões que se prendem com a vida agitada e cheia de horários que todos levamos, eu não vejo a Madalena muitas vezes, pelo menos, não a vejo as vezes todas que queria e devia. Acontece que isso não tem nada a ver com o que eu gosto dela porque é das pessoinhas que mais amo e admiro. E porquê? Porque acho que ela é uma criança adorável, muito disponível e cheia de génio. De resto, vinda da família que vem, seria sempre fácil gostar dela.
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Ora, ontem, fui visitá-la porque tinha feito anos esta semana e tinha uma festinha no sábado. O pai telefonou-me na sexta-feira e colocou a menina ao telefone e a vozinha meiga dela a dizer, Padrinho vem à minha festa!, era absolutamente incontornável. O milagre deu-se quando cheguei. Como a vejo pouco, ia no caminho a pensar como é que haveria de fazer para mostrar a uma criança de 4 anos que o facto de a ir ver poucas vezes não tem nada a ver com o que gosto dela porque gosto dela um mundo inteiro de carinho e ternura... Pensei usar uma linguagem próxima dos valores que as crianças com 4 anos dominam melhor e dizer-lhe que gostava dela daqui até ao céu o que, além do mais, é a mais pura verdade. Ora, as crianças parecem ter uma sensorialidade diferente e, ao contrário dos adultos, sentem muito, sentem bem, interpretam muito melhor e, mais do que tudo, sabem agir de acordo com esses sentimentos de forma simples e clara. Eu não via a Madalena há 6 meses, imaginei que me reconheceria mas estava preparado para uma recepção pouco efusiva. Acontece que ela resolveu surpreender-me. Quando me viu, gritou:
------- Padrinho!
Correu para mim, atirou-se para o meu colo, enrolou os seus bracinhos frágeis à volta do meu pescoço com quanta força tinha e apertou-me a cintura com as pernitas finas mas cheias de energia. Depois ficou ali, agarrada a mim, como se não quisesse sair, e os minutos iam passando e eu comovido, quase envergonhado, sem saber bem como reagir resolvi fazer como ela, ser simples, e devolvi-lhe o abraço apertadinho, caminhei com ela abraçada a mim e disse-lhe simplesmente, O padrinho gosta muito de ti!
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Foi o meu milagre. Um milagre chamado Madalena. Esqueci-me das coisas que tinha para lhe dizer e só passado um pedaço de tempo é que me lembrei de lhe dar a prenda. Já mais nada interessava. O mais importante já tinha acontecido e uma menina de 4 anos tinha acabado de me ensinar que se pode amar com o coração todo, em dádiva plena, sem regras, só com reconhecimento. Não chorei ali. Fiz um esforço porque estava mais gente. Mas no regresso, no carro, as lágrimas que havia contido, resolveram ganhar a batalha.
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Obrigado Madalena, por seres uma menina que faz milagres de Amor. O padrinho gosta muito de ti e da tua família e isso não tem nada a ver com as vezes que o padrinho te vai ver. O que importa é que cada vez que o padrinho te vai ver leva o coração cheio de luz e alegria e amor puro. O que interessa é que o padrinho gosta muito de ti os dias todos. O que interessa é que o padrinho está a aprender contigo que o Amor puro e a dádiva dele não têm regras.
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Beijinho do padrinho.

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