Há povos com pendor para a síntese. E há povos com pendor para a análise. Da mesma forma, há povos palavrosos e há povos mais reservados. E estas tendências cristalizam-se nas grandes obras e cometimentos, mas, sobretudo, nas pequenas coisas, nos pequenos gestos do quotidiano.
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Hoje lembrei-me disto porque andei de metro.
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Há uns tempos estive em Londres e a frase mais frequente no Metro londrino é "Mind the Gap". Com três palavrinhas apenas, a empresa do Metro de Londres diz, de forma sintética e incisiva, aos seus utilizadores, para terem cuidado com o desnível entre a máquina e a plataforma ao entrar e sair do Metro. Este anúncio é muito repetido porque há, efectivamente, muitos acidentes por ano com pessoas que tropeçam e caem.
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Não há povos nem culturas melhores. Todos são diferentes e preciosos e, hoje, enquanto andava no Metro de Lisboa, ouvi a versão portuguesa daquele aviso e não consegui conter a escrita. Tal é a diferença. De tal forma me deixou a pensar. Enquanto as pessoas entram e saem, uma simpática voz feminina menos incisiva que a congénere inglesa, mas bem mais elaborada sintacticamente avisa os incautos: "Senhores passageiros, atenção ao desnível entre o cais e o comboio!". Com onze palavrinhas apenas...