O Clã do Comboio - Morning Breakfast


Morning Breakfast
Tem as mãos largas. As unhas transparentes acabam num risco branco. Não sendo magra, não é gorda. É aquele tipo de mulher a que chamamos bem constituída. A cara larga e ampla, o cabelo louro, pelos ombros, as pernas largas e roliças. Traz sempre um ar sério. E tudo isto, sendo a sua especificidade, é comum e não suscita um texto. Mas há um ritual. Alguns de nós tomam café em casa, outros no bar da estação, outros vão a esse mesmo bar tomar todo o pequeno-almoço matinal. Ela não. Posiciona-se na plataforma de frente para mim, do outro lado da linha. Entra pela porta oposta à que eu uso e sentamo-nos na mesma zona. E depois surge o ritual. O pessoal acomoda-se, assenta o pó do ruído e ela, sempre, religiosamente sempre, toma o seu pequeno-almoço a bordo. Pode ser uma sandes, uma fatia de bolo ou outra coisa qualquer. O que quer que seja, é sempre generoso. Foi cortado por generosas mãos e é degustado com o interregional das 7:18 em andamento. Com a mesma calma e ligeireza de gestos com que abre a merenda, também se desfaz do que sobra e do guardanapo ou do papel de alumínio onde vinha embrulhada.
Depois, de forma invariável, encosta a cabeça à lateral do comboio e dorme até ao Oriente. É como dizia a minha mãe, de barriguinha cheia…

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