O Clã do Comboio – O Ceguinho


O Ceguinho
Esta história terá poucas palavras porque nem sequer é uma história. É mais uma constatação de um ritual como qualquer outro, estranho como qualquer outro. Um homem nos seus quarenta entra todos os dias no interregional das 7:18, procura o mesmo banco, o que consegue porque não é uma zona muito procurada e dorme. A forma como encontra o seu equilíbrio é um pouco diferente da maioria de nós. Em vez de colocar a pasta na prateleira ou debaixo do banco onde segue sentado, coloca-a no colo, agarra-se a ela, dobra-se sobre ela e dorme assim.
O que suscita este texto, contudo, é o mecanismo que ele encontrou para isolar-se de todos nós. Não foi tapando os ouvidos com as suas escolhas musicais, foi colocando uns óculos escuros. Ora, isto torna-se engraçado porque, quando entramos para o comboio é noite, ou melhor, o dia anuncia-se lá ao fundo mas não há, ainda, qualquer notícia do sol, logo, não é dele que se está protegendo. E lá vai, dobrado sobre a pasta, dormindo atrás do seu escudo de estar isolado e protegido… mas não do sol!

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