Histórias do Autocarro 28 - Saciada

Saciada
Isto que agora se escreve não é bem uma história. É mais um apontamento. A coisa passou-se em fracções de segundo. Quer dizer, também não foram bem fracções de segundo. Foram uns instantes. Instantes curiosos e de tal forma interessantes que dariam um romance. Como não tenho tempo para o romance, fica o apontamento.

Ultimamente faço o percurso do autocarro 28, entre Santa Apolónia e o Cais do Sodré, de metro. Depois, num eléctrico ou num autocarro qualquer sigo até à Infante Santo. Apanho o primeiro que chegar. Torna-se mais rápido e diversificado e sempre obriga a algum exercício físico. O instante que vou contar-vos, passou-se no eléctrico 18 ainda não eram 9 da manhã.

Entrámos e o eléctrico ficou composto mas longe de estar a abarrotar. Isto é importante porque significa que o campo de visão e observação estava desimpedido. Num banco de dois lugares, daqueles que estão colocados lateralmente, ou seja, virados para o corredor do eléctrico, sentou-se uma moça. Era jovem. Muitíssimo atraente. Cabelos escuros, lisos e longos, pelo meio das costas. A tez clara e os olhos muito azuis. Tinha um discreto piercing num sobrolho e os lábios eram bem definidos, em V ao meio. Casaco de camurça e calças de ganga muito justas e coladas às pernas de formas sensuais. Os homens que entraram com ela repararam naquela beleza, mas, após a primeira espreitadela de relance, desviavam o olhar para não parecerem muito vorazes, nem estarem a incomodar a moça com olhares directos. De maneira que ia ali um ambiente de "quero mas não faço" que era absolutamente indisfarçável e um tanto constrangedor. Por motivos que davam uma tese, mas não aprofundaremos, nenhum homem se sentou ao lado dela. Fosse para não parecer atrevido, fosse porque uma beleza assim pode intimidar os mais ousados, ela seguiu sozinha até à primeira paragem depois do Cais do Sodré rodeada de homens que queriam olhar para ela mas não eram capazes de mais do que uns relances disfarçados.

Na paragem, entrou um jovem aí dos seus 30 anos, estatura mediana, cabelo escuro, curto, porte atlético comprovado pelos músculos que lhe moldavam as calças de ganga justas. Tinha um casaco preto de cabedal, cintado. Outros músculos se notavam bem colados às calças, com formas definidas e a prometer solidez. Eram os do rabo. O moço poisou um saco de desporto no chão e rodou sobre si para sentar-se no lugar vago ao lado da moça. Ora, quando rodou, houve ali uns instantes em que o seu atlético e firme rabo esteve de frente para a moça que olhava em frente, para um ponto indeterminado, como fazemos todos nestas situações. E foi aí que ela nos surpreendeu. Abandonou o olhar no vazio, fixou-o no rabo que rodava à sua frente, encheu a vista, tirou-lhe bem as medidas, e quando o rapaz já se sentava, ela fechou os olhos devagarinho e ao abri-los já tinha um sorriso nos lábios.

Os homens que tinham estado ali à volta a fingir que não a viam, a evitar olhar para ela, a lançar-lhe relances despercebidos, ficaram desarmados e a pensar em conjunto:
- Ora toma, a malta com pruridos e ela saciou-se!

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