Muralha


Cerca-te o ser
Uma muralha
De impedimentos.
Uma vedação de normalidade.
Esquecem-se os homens
Que és de um clã sem idade.
O dos loucos e artistas
A quem devemos o mundo,
O seu entendimento fundo.
Roubas a serenidade
Do comodismo.
Vives nessa ténue fronteira
Entre a total sanidade
E a vertigem da bebedeira
Dos sentidos.
-
E és um dos perdidos
Enquanto nos salvas
Das nossas próprias visões,
Da limitação das nossas curtas vistas.
És daqueles que abrem o peito
Aos juízos vagabundos
E em assomo de ingenuidade
Clamam que querem ser artistas.
-
Temo por ti.
Não por ti, ti.
Por ti, nós.
Temo que não saibamos
Receber-te,
Perceber-te,
Acolher-te
Senão quando chegar
O tempo das homenagens póstumas.
-
Neste universo de normalidade
Absurda e inquieta
Quiseste a prostituição
De ser poeta
Das imagens.
Entregaste a alma e o coração
Vendeste-os ao desbarato
E disseste que eras artista.
Oh ousadia, oh desacato!
Porque incomodas tu?
Porque não sossegas no teu canto
E vais ser maluco para outro lado qualquer?
-
E, contudo,
Quem te olhe e queira ver
Encontrará a centelha
Que marca a diferença
Entre a superficialidade
E a essência.
-
Cerca-te o ser
Uma muralha
E a muralha somos nós.

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