O Clã do Comboio - O Rómingue


O Rómingue
Há já uns dias que não colhia nenhuma história e hoje apanhei duas. De maneira que são fresquinhas. Esta traduz uma fusão. A fusão cultural e linguística entre a mais profunda ruralidade e o mais recente cosmopolitismo tecnológico. A história é breve. Basta uma descrição e uma tentativa de reprodução de uma conversa de que só ouvi metade. Porquê? Simples. Foi ao telefone e não sei o que a pessoa do lado de lá do aparelhómetro disse.

Era uma mulher baixinha, muito coradinha, cabelito curto, voz trigueira de quem não cala resposta e roupas bem campestres preparadas para o frio. Botas de cano alto em camurça, gastas. Se não falasse como falou, diria que alguém do interior tinha ido ao médico e regressava a casa no InterCidades das 19:30h. Mas a conversa despistou essa possibilidade. Ela e os outros, para aí uns quatro, já contando com o marido, tinham acabado de chegar. E foi assim.

- Tou sim?
- (...)
- Sou. Estamos no treine. Aterrerizámos há pouco.
- (...)
- Em a gente chegando, vamos organizar a nossa vida.
- (...)
- Não senhor, a vida pode esperar.
- (...)
- Não senhor, a gente tem de organizar a nossa vida e visitar os parentes.
- (...)
- Sim, eu sei. É o do talho, não é? A gente aluga um carro de praça.
- (...)
- Não. Não atendi. É que o meu telefone tem uma coisa estúpida que é o rómingue. A gente até por atender paga. De lá para cá é 75 cêntimos mas de cá para lá é mesmo uma coisa estúpida.
- (...)
- É o rómingue.
- (...)
- Beijinhos p'ra vocês. Deus queira que corra tudo bem com o Toino.
- (...)
- Beijinhos p'ra vocês.
- (...)
- Beijinhos p'ra vocês.

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