O Clã do Comboio - Não chores!


Não Chores!
Quando o InterCidades de Lisboa para o Porto parou em Vila Franca de Xira, estavam quatro na plataforma. Um idoso, uma mulher nos seus quarenta anos, um homem de idade similar e um menino com cerca de oito anos.

Aproximaram-se da porta do comboio, mas só o homem entrou. Não o vi. Só o ouvi. A eles, vi-os pela janela. Assim que o comboio engoliu o homem, ele deve ter-se virado para a rua, para um último olhar, um último adeus. A criança agarrou-se ao ventre da mãe, abraçou-a como que a pedir que não acontecesse o que estava para acontecer e começou a chorar baixinho. O homem, sem se importar que o ouvissem, gritava bem alto para a rua algo que se ouvia na carruagem toda:
- Não chores, meu filho, não chores!

Nunca falou com nenhum dos outros porque os outros, sendo crescidos, compreendiam o sacrifício da separação porque conseguiam ver para além dela. Mas a criança não.

O comboio arrancou e o homem continuou repetindo em voz alta e sem cessar:
- Não chores, meu filho, não chores!

Quando as portas se fecharam e as pessoas da rua deixaram de ver-se, o homem entrou na carruagem, procurou o seu lugar, atirou-se para cima do banco, suspirou fundo um suspiro de desespero e chorou.

E eu pensei:
- Não chores!

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